quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

LUGAR DE LIVROS

    Meu pai era professor de desenho. Culto, gostava de músicas clássica e popular brasileira e jazz (jás, como ele dizia). Tínhamos muitos vinis e uma radiola de armário com botões de madrepérola. A casa, onde morei durante os 15 primeiros anos de vida, tinha quintal (café, goiaba, manga espada, lágrima de nossa senhora, laranja vinagreira...), porão, alpendre, jardim e biblioteca.
    Este era o nome do cômodo: biblioteca. Era onde ficava sua escrivaninha de trabalho, o piano de minha irmã, um sofá e, claro, os livros. Eram duas estantes de aço ladeando a porta. Totalmente ocupadas. Eu e meus irmãos tínhamos acesso a todos eles: O Reino Infantil, O Mundo da Criança, todo o Monteiro Lobato, Enciclopédia Delta Júnior, Barsa, Tecnirama, todo o Júlio Verne, O Tesouro da Juventude, a coleção Vida das Grandes Personalidades, Ascensão e Queda do Império Romano, as coletâneas de romances da Seleções do Reader´s Digest, Winnetou, todas as Fábulas de La Fontaine, Contos dos Irmãos Grimm, a coleção Saraiva de romances e tantos outros.
    Eu li praticamente tudo isso antes dos 15 anos. (Óbvio que este ler significa, muitas vezes, apenas ter folheado os livros, tentando ler de verdade ou vendo gravuras.)
    Isso não fez de mim um erudito, mas um apaixonado por livros e bibliotecas.
    Em algum momento no início da vida escolar, fui nomeado ou eleito algo como “presidente da biblioteca” da sala. (Ou eu sonhei isso? Havia uma “biblioteca” em cada sala de aula? Talvez fosse uma estante e eu fosse um tipo de zelador...) Logo que adquiri autonomia para frequentar a biblioteca do colégio (Batista Mineiro), fiz meu cartão de leitor.
    Nunca mais parei de ler. Nem digo que é um vício ou uma missão ou qualquer coisa assim. É apenas continuar fazendo o que eu comecei antes ainda de aprender o alfabeto, antes de entrar na escola.
    Quando pude acessar a biblioteca estadual “Luiz de Bessa”, também me cadastrei (ou melhor, me associei). Lembro de em algum momento ter guardados em casa dez cartões carimbados de ambos os lados.
    Essas coisas fazem parte do que eu sou.
Ah, havia também uma máquina de datilografia Olivetti Studio 44 que está comigo até hoje.
    Mas este é o outro lado da história.
    Ou dos livros.

Um comentário:

  1. seu universo literário infantil é bem parecido com o meu, só que eu tinha acesso a estantes espalhadas no quarto dos tios, na casa da mãe, na sala da avó, no outro quarto das tias... e no quarto de costura onde ficavam as revistas em quadrinho e minha coleção de Recreio! ô delícia!

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