sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

RODRIGO LESTE, ALÉM DOS 30 ANOS

   

     Estava de bobeira num dia qualquer de férias em Sabará, quando minha prima Laurinha me achou e perguntou se eu gostaria de trabalhar como ator. Eu já trabalhava com ela, seu marido Osvaldo e seu cunhado Pedro Rosa no grupo de dança Giracorpus (entre outras coisas, eu fazia percussão para um número). Como me achava capaz de mudar o mundo, ser ator não seria nada demais. Na praça do Rosário nos reunimos com Rodrigo Leste e marcamos um teste para o dia seguinte, no DCE da Federal, em BH. Fui aprovado, até porque eu era o único candidato e a peça já tinha várias apresentações marcadas. Era "A estória da invenção de um palhaço", o ano era 1978 ou 79.
      Mas eu já conhecia Rodrigo de antes: sabia que ele era o autor das peças "Quando os Beatles tocarem juntos outra vez" e "Tudo certo, mas tá esquisito", cuja divulgação era feita em grafites que ficaram famosos em BH; e -- o que é mais importante para mim: estava esperando um show começar no DCE da PUC quando ele passou vendendo um de seus livrinhos de poesia, no "mano-a-mano".
    A peça infantil teve longa temporada no SENAC (José Mayer e Vera Fajardo, já famosos na cena local, também estavam em temporada ali) e muitas viagens, incluindo um festival em Porto Alegre (ficamos hospedados no Hotel Colina, em Canela: Walmor Chagas e Marília estiveram por lá, Leri Faria costumava tocar pra turma, rolou uma pelada ao sol das 20 horas...).
     Depois disso via Rodrigo de vez em quando, no circuito, até que ele me convidou para acompanhá-lo, como técnico, numa turnê de dois meses por Brasília e região noroeste de São Paulo. Além dele, sua esposa à época, Luciana Rothberg, compúnhamos a trupe numa Caravan entulhada até o caixote sobre o teto de cenários, figurinos e bagagem. Foi uma aventura e tanto.
     Nessa altura éramos amigos e trabalhamos juntos na criação de algumas peças que ele continuou encenando Brasil adentro. Essa parceria foi interrompida neste 2015. A amizade agora conta com a troca de informações sobre literatura (dicas de leitura e originais de contos), sinuca e os encontros com outros escritores que compõem a turma de "quintaneiros infernais".
     Esta história serve para registrar que durante o trabalho no teatro foram especialmente importantes para mim, pelas experiências de palco, viagens e o que elas trazem, as coisas que eu tive a oportunidade de aprender no trato com essa figura ímpar que é Rodrigo Leste.
Ps: No palco com "A estória...", estavam também Tião Camilo, que nunca mais vi, e Luiz Maia, ator aposentado e grande desenhista.

sábado, 24 de outubro de 2015

REINALDO SANTOS NEVES


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Reinaldo Santos Neves
     Em algum momento da década de 1980, Marçal Aquino me apresentou, com entusiasmo, o romance As mãos no fogo, do capixaba Reinaldo Santos Neves. Li, gostei e muitos anos depois comecei a me corresponder com ele. 
     De lá pra cá li A longa história,  Kitty aos 22: Divertimento, Herótodo, IV,196, A ceia dominicana, os três volumes de A folha de hera e Muito soneto por nada, além de crônicas e outros textos no site Estação Capixaba. 
     No campo afetivo, tive o prazer de ser recebido por ele e sua companheira Maria Clara duas vezes, lá nas praias de Vila Velha, para cervejas e almoços.
     Sempre elogio sua obra em público porque o considero um dos maiores entre os melhores escritores brasileiros. Analisando superficialmente os motivos que o mantêm no semi-anonimato, chego à conclusão de que sua postura anti-celebridade, seu rigor intelectual, a qualidade de sua literatura e até o volume (A Ceia, A Longa história e A Folha de hera têm umas 2.700 páginas, sendo que metade d'A folha é em inglês arcaico). Sua obra é quase toda publicada por pequenas editoras ou órgãos públicos do ES; as exceções (Longa história e Ceia) não obtiveram resultado comercial que interessasse à editora (Bertrand Brasil) continuar a parceria.

     Durante anos acalentei a ideia de uma série de textos que eu precisava muito realizar. Fiz algumas versões em versos, mas aquilo era material para prosa. Após já ter lido várias vezes os cinquenta poemas de Muito soneto por nada, consegui, numa noite, num estalo, o tom e o nome para colocar no papel esse projeto: "Vamos dizer, Jose..." Era só daquilo que eu precisava. Jose é a musa do livro de Reinaldo. Mantive-a no cativeiro de meu computador por mais tantos outros anos, até que na véspera de publicar, resolvi devolvê-la a seu criador e adotei a universal Maria, trocando o título do meu texto de Jose para Muito silêncio (por nada).

terça-feira, 12 de maio de 2015

MEU PRESENTE É MUDAR


A primeira atividade que coordenei na SMC foi um Varal de Poesia em todas as regionais da cidade.

     O presente que me dou ao completar hoje 54 anos de idade é me oferecer um novo desafio. Tenho dado conta de resolver com alguma destreza os que surgiram até agora. Por isso, iniciar um movimento está me deixando bastante satisfeito. Aos fatos:

     Trabalho há 30 anos na área de cultura da prefeitura de Belo Horizonte. Fiz de quase tudo um tanto e ainda faço. Sou um funcionário público realizado (http://sergiofantini.blogspot.com.br/2013/02/alguns-dias-o-afonso-andrade-comentou.html).

     No setor de literatura, estou há uns 10 anos. Agora vi a possibilidade de aprofundar minha ação e compartilhar ainda mais a experiência acumulada durante estas três décadas.

     A prefeitura mantém várias unidades de assistência social espalhadas pela cidade. Uma delas fica no meu bairro, o “BH Cidadania União”. Apresentei à sua gerente minhas ideias - que são também meu sonho. Ela, com longa experiência na área em que atua, vislumbrou a possibilidade de criarmos um projeto que considere os objetivos da assistência e da literatura. (Ah, sim, é disso que estamos falando.)

     Imediatamente rascunhei um Plano de Trabalho. Isso foi no início de março. Agora, início de maio, veio a confirmação de que poderemos começar a trabalhar no início de julho.

     Minha motivação é muito clara: quero estar, no meu cotidiano, envolvido diretamente com as pessoas que têm pouco ou nenhum acesso à literatura. Estou me dando uma missão: criar um ambiente literário onde ele não existe. Por ora (ainda não me integrei à equipe do BH Cidadania), estou chamando de Programa Literário do União uma série de ações como oficinas, saraus, ponto de leitura, exposições e leitura domiciliar. Ainda preciso somar a ele a realidade do que já é feito ali (e as potencialidades dos novos colegas) à realidade do bairro e das pessoas que formam a comunidade.

    Como isso ainda não foi feito na área da assistência social, o Programa será um piloto que poderá mais tarde ser implantado em outras unidades da prefeitura.


     É um desafio, um projeto, um sonho que quero transformar em realidade nova para mim e para a cidade.



Ps: Para que isso se concretize, foi e será imprescindível a parceria de Maria da Graça Madureira, Luzia Ferreira, Leônidas de Oliveira, Simone Araújo e Fabíola Farias — registro aqui meu reconhecimento.