quarta-feira, 10 de julho de 2013

CONTRA A COPA, A FAVOR DO BRASIL 2

   Futebol é um esporte interessante, mas quando aconteceu a copa nos EUA, vi uma tirinha da imprensa local lá deles em que havia um sujeito diante da tevê: os primeiros quadros davam placares de resultados com números altos e o último dava zero a zero. Era, óbvio, uma crítica à falta de graça, na opinião deles, do futebol - em comparação com o basquete e o rugby.
   Mas nós aprendemos a amar o futebol.
   Eu fui atleticano desde criança até o dia em que descobri que o era porque meu irmão mais velho tinha decidido por mim que eu o seria. Daí parei de torcer e continuei só gostando do esporte. (Neste meio tempo, eu joguei muita pelada de rua, criei um time, fui capitão do time da escola, fui aprovado para o dente-de-leite do Atlético com apenas um treino, sob a supervisão de "seu Zé das Camisas", joguei pelada por meses com os colegas de trabalho...) Até o dia em que decidi torcer pro América porque era o menor, o que mais apanhava, ou seja, ideologia: preferi ficar ao lado do mais fraco e oprimido.
   Recentemente (http://sergiofantini.blogspot.com.br/2013/02/adeus-futebol.html), decidi nem torcer pro Coelho, que tantas alegrias me deu (ir ao Independência, tomar cerveja, comer o tropeiro (não tão bom como o do Mineirão), xingar juiz e jogadores (e ser ouvido) e comungar com aquela torcida bacana - não tinha preço!). Foi, mais uma vez, uma decisão consciente - e política.
   Um amigo querido, comunista (ex-PCB é comunista?), gente boa toda vida, parece outro quando o assunto é futebol: preconceituoso (como nós  éramos há quarenta anos), trata os torcedores adversários como "maria"; imagino que em dias de jogos decisivos, ateu, deve também rezar...
   Mas ele é só um exemplo de uma imensa massa de manobra engendrada pelo sistema para manter em atividade o picadeiro deste circo. Nunca foi tão explícita ou intensa (ao menos para mim) a manipulação da informação (uso do tempoespaço da imprensa). Um fato que determinou minha decisão de me tornar crítico do futebol foi ver dois operários discutindo e quase chegando à agressão física - tema: se Ronaldinho tinha jogado mal ou bem! E os dois eram atleticanos! Sentados perto dos tijolos da obra, meio dia, um calor infernal e maior preocupação deles era essa.
  Por isso também estou em campanha aberta (tarde, eu assumo, mas não o bastante para vencer) pela não realização da copa em 2014 no Brasil. Conseguir isso será o primeiro passo para que a gente reveja nossa (nós, povo) relação com o esporte.
   Para que a gente escolha o time que queremos ver vencer - sem a imposição do irmão mais velho.

terça-feira, 2 de julho de 2013

COFIANDO "BARBA ENSOPADA"



Comecei ontem a leitura de Barba ensopada de sangue, do Daniel Galera. Promete, mas me trouxe já alguma reflexão.
   Antes, já havia ouvido a mesma observação, em tom crítico, de três pessoas sobre uma característica desse romance: há excesso de descrição. Isso não me assustou; por si só, não é um problema - nem a descrição nem o palavrão nem nada - o que importa é o conjunto, a eficácia do resultado, se a coisa funciona. Um desses leitores observou que essa é uma característica do romance do século 19, ao que eu rebati que o leitor de hoje, presume-se, já tem o código das descrições (entre outros), o que permitiria ao autor evitá-las.
   O primeiro capítulo desceu bem, ok. No segundo, me lembrei de Hemmingway em, se não me engano, Paris é uma festa, em que acompanhamos (para mim, que sou fã dele, de forma cansativa) cada passo do protagonista. Reduzi a leitura para uma primeira marcha. E no trecho de hoje (leio muito no ônibus, pela manhã), ficou claro que o protagonista tem um grave (e interessante) problema de memória. Ah, sim senhor, então o excesso de descrições do narrador é/pode ser um recurso do autor para fixar no leitor esse problema! O possível aborrecimento causado pelo excesso de descrições é uma forma de compartilhar o incômodo do personagem. Ok, ponto pro Galera. 
   Vamos ver então como isso se sustenta pelas próximas 400 páginas...

segunda-feira, 1 de julho de 2013

"CONTRA A COPA, A FAVOR DO BRASIL!"

   Para compartilhar algumas postagens hoje no fb, usei este "slogan" com forte cheiro ufanista. São postagens que contrapõem as notícias sobre a copa das confederações e as manifestações que varreram o país.
   
   Há pouco tempo decidi não torcer mais para o América mineiro porque decidi ser contra o futebol. Contra o uso que se faz do futebol. Contra a inimaginável manipulação (Huxley e Orwell gostariam de ver isso) a que foram submetidas as pessoas que amam o esporte. E todos os detalhes que compõem esse cenário: os bilhões de dinheiros envolvidos (sendo a maior parte oriunda da torcedor que paga ingressos e consome produtos dos patrocinadores); o tempo investido pela mídia que leva a se crer que aquilo é realmente importante e quase a única coisa que aconteceu no dia; as firulas do universo "celebridades" tão distantes da vida do torcedor e; entre outras, principalmente a forma como as pessoas vêm aceitando isso como se sua vida fosse mesmo muito importante para o futebol.
   
   Vamos à Copa de 2014.
   Há alguns dias surgiu o seguinte argumento favorável à realização da Copa: "como já se gastou muito dinheiro, é melhor fazer, para se angariar uns caraminguás."
   Não gosto dele porque é só econômico. "Como você comprou um tatu vencido, é melhor comer, correndo riscos."
   Imagine o "país do futebol" negar-se a receber a Copa, a esta altura do campeonato, pela rejeição do povo, contrariando todos os interesses (nada populares) já investidos nela! Seria maravilhoso. Teríamos (temos) uma ótima oportunidade de recomeçar do zero. Precisamos reaprender a conviver com o esporte, não com a manipulação que se faz dele.