segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

RUI WERNECK COMENTA NOVELLA

NA PRAIA COM A PRAIA DA ESTAÇÃO 

Um dia, o Sérgio Fantini me convidou pra ir à praia. Mineiro maneiro... na praia? Eu, curitibano da casca, fui. E logo de cara veio uma onda grande e me disse: isso é boa novidade! O mar estava agitado, de ressaca, e eu fiquei na beirada, cismando. Entrar ou não entrar, eis a canoa. Quando dei por mim, tinha bebido um bom gole da água salgada e irrequieta. O mar nunca é novidade. Ou, sempre é. Não tem meio termo. E, com água até o pescoço, vi o Fantini nadando em largas braçadas até a linha do horizonte. O conto Praia da Estação estava no fim e fiquei esperando a volta do Fantini, lá de longe, em navio de luxo: o livro. 
E ele veio de motor em popa. Azeitadinho, ronronando, de porto em porto: A vida é assim mesmo, Lalona, Gustavo Furioso, Bons motivos pra se matar, Chuva, Sua, Pra cima com a vida!, Daqui pra frente, Velhos amigos, Jamais reutilize uma embalagem vazia, Um amigo de Deus, Praia da Estação (bis!), Dorinha, Muito silêncio (por nada). 
Sol quente, muito mar, areia fina e uma cerveja bem fria. Tô como o deus do mar, Netuno, gosta! 
Nem adianta perguntar: vai ter mais dessa ressaca? O Fantini, inescapavelmente mineiro, não faz marola. Não deixa escapar seus peixes grandes. Às vezes, bota uns filhotes no aquário da internet pra atrair pescadores. E vai bordando as ondas maiores, os peixes bons, as sombras das cavernas submarinas — a revolução dele é mais que uma palavra. É um terremoto submarino — que a gente chamava de maremoto. O mar remoto da literatura amiga que não tem controle remoto.


“Novella”, Sérgio Fantini, Edição Jovens escribas, 2013, capa do Marçal Aquino. Peça pra ele no Facebook dele.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

DESENHO PRA CLAREAR

   Um amigo desenhista, de quem sou fã, aceitou ver meus rabiscos e, se não me expulsar de sua casa, vai conversar comigo sobre eles. Antes que eu me envergonhe por uma coisa ou outra, deixa contar minha relação com o traço.
   Meu pai foi professor de desenho artístico e mecânico em várias escolas, entre elas o IMACO e a ETFMG, atual CEFET. Trabalhava em casa, como todos os professores (sem remuneração extra por isso), corrigindo provas que, no seu caso, eram folhas e mais folhas com desenhos de rosáceas, losangos, círculos, parafusos, engrenagens... Eu convivi com isso desde a mais tenra idade (yes!) e, claro, foi meu primeiro papel de rascunho (ainda tenho a primeira versão da ópera-rock que escrevi com o Sylvio aos 11, 12 anos). Então, além dos muitos livros que tínhamos em casa (fundamentais para fazer de mim um leitorescritor), manuseei desenhos desde sempre.
   Em algum momento antes dos 15 anos, tive caxumba durante duas semanas. Para ajudar a passar o tempo, comecei a copiar os personagens das revistinhas no caderno de desenho da escola. Acabei enchendo dois, com patos donalds, tios patinhas, luluzinhas, bolotas, riquinhos etc.
   Depois dos 15, antes dos 18, acompanhava a imprensa alternativa, que tinha muito cartum, tirinha... E surgiram revistinhas nacionais e locais. Eu assinava o Fradim, fui ao lançamento da Meia-Sola, exposições e eventos... Nessa época andava com Humberto Guimarães, Luiz Maia, Sônia Barbosa e outros amigos que gostavam e tentavam se dedicar ao desenho. (Até hoje desenho uma carinha que é plágio/adaptação dos traços desses três sabarenses.)
   Fiz um curso extra, meia-boca, de "desenho publicitário" no colégio; fiz "desenho arquitetônico" no 3º ano do 2º grau... E é só.
   (Mas meu maior laboratório são as reuniões lá onde trabalho...)