quarta-feira, 28 de março de 2012

ROCK É NOSSO TEMPO, BABY!




   Sou roqueiro que viu nascerem bandas na década de 1980 (e um pouco antes). Fui a shows, comprei discos, decorei letras, cantei junto, tenho a minha preferida, enfim, faz parte do meu set list.
   Sou roqueiro frustrado, não aprendi a tocar guitarra ou qualquer instrumento musical (só este teclado, mas aí são outras melodias).
   Acabo de ler um livro que me deu muito prazer: No submundo do sucesso, de Ivan Sergio Santos (Vagabundo Solitário, 2005). É uma autobiografia ficcional deste jornalista que mora em Brasília, que "foi ator de teatro, figurante de cinema, garçom, compositor" e teve uma banda de rock.
   Ivan conta uma história arquetípica de um super star do rock brasileiro, com direito a todos os clichês que nós, fãs, imaginamos: abandono da família, mulheres, brigas com empresários, loucura, drogas, viagens, dinheiro, depressão, disputas... 
   O texto tem charme e fluência, humor e poesia. Leitura fácil e, para mim, muito emocionante. Foi um pouco como ouvir do meu ídolo Scandurra, numa mesa de bar, horas e horas de suas histórias, das aventuras do meu querido IRA! há vinte anos, quando éramos todos jovens cabeludos.

terça-feira, 27 de março de 2012

MANIAS DE VOCÊS


 
 O escritor Michel Laub recolheu, em seu blog (http://michellaub.wordpress.com/), uma centena de depoimentos de escritores relatando suas manias ao escrever. Ainda não li todas, mas é um passatempo bem interessante. Para nós, que oferecemos oficinas, chega a ser material de trabalho. 
   Em 2004, preparei uma apostila para a oficina do Festival de Inverno em Diamantina/MG com dezenas de depoimentos sobre processos de criação. Recolhi de entrevistas de fontes variadas e também pedi a  amigos que enviassem seus depoimentos. Ficou um material muito interessante, que até hoje uso nas oficinas que dou no Espaço Cultural Letras & Ponto.
   Estes depoimentos ao Michel têm um pouco de criação, mas muito de detalhes pessoais, o que os torna também divertidos, além de úteis como exemplos.
   Exemplos de quê? Uma tecla que toco sempre é a de tirar toda e qualquer aura de mística que chega na cabeça dos oficineiros. Minha missão seria, se eu tivesse uma, mostrar a eles que escrever é um trabalho. Pode não ser remunerado, reconhecido e gratificante, mas se é o que você tem que fazer, faça com lucidez.

   Gostei tanto da ideia do Laub que resolvi fazer também com meus amigos de BH. Vejamos como fica isso.

sábado, 24 de março de 2012

MUUUUUUUUUUUUUUUU




    Quando trabalhei no jornal de Alfenas/MG, com o poeta Eloésio Paulo de editor, tinha como uma de minhas tarefas resenhar livros. Noites do Bonfim foi um deles. Gostei, publiquei minha opinião e o jornal enviou o exemplar à editora, como rotina. Dias depois, recebi uma carta do autor em tom pessoal. Respondi na mesma nota. Assim me tornei amigo de Marcelo Carneiro da Cunha, escritor de, que morava ainda em Porto Alegre/RS. A partir daí começamos a trocar livros, originais, impressões. Em um ano parecido com 2003, fui conhecer a capital gaúcha durante o Fórum Social Mundial. Aproveitei para conhecer também o Marcelo (e, de quebra, o Carpinejar), uns 15 anos depois das primeiras cartas, "quando ainda não havia email, acho que nem correio havia".
    De lá pra cá, ele publicou romances, contos e juvenis, teve uma adaptação pro cinema (do ótimo Antes que o mundo acabe), trocou de profissão, fez palestras, viajou o mundo, casou-se com a Fabiana e mudaram-se para São Paulo, tiveram o Manuel há 4 meses, enfim, tocou a vida.
   Agora está lançando Primeira vez e muitas vacas (Record), romance escrito primeiro como conto para uma antologia idealizada pelo também gaúcho Ernani Ssó.
   Marcelo tem, para seus personagens jovens, uma dicção muito própria. Isso que é um drama (e muitas vezes a ruína) para certos autores, com ele soa natural. Tem também um humor bem articulado, que te faz rir sem se distrair da história. Sempre tem histórias interessantes, que mantêm o leitor conectado até o fim. Aliás, conectado é o termo mais adequado, pois ele faz questão de situar suas histórias no contemporâneo. Seus personagens usam todas as traquitanas eletrônicas e transitam no mundo virtual com naturalidade, como fazem os jovens reais.
   Marcelo tem uma característica, não muito à flor da pele, que se reflete em todos os seus textos: uma enorme solidariedade pelo ser humano. Todos eles, incluídas as crônicas semanais no Terra Magazine, escondem sob o humor fácil e muitas vezes cáustico; sob a crítica feroz a certas trapalhadas da sociedade, um olhar terno para o indivíduo vítima. 
   Neste Primeira vez e muitas vacas, os leitores vão se surpreender no final, eu aposto todas as minhas teclas. Uma garota hiperurbana cujos pais se separaram, opta por dar um tempo na cidade pequena, rural, do interior, com parentes que ela mal conhece. Mas ela tem uma forte motivação para esta mudança, e muita coisa interessante vai acontecer. mas o personagem principal talvez não seja ela.
   Eu li em três trajetos de ônibus até o trabalho, esta semana. Muitas questões caras aos escritores estão ali, mas nunca sob a forma de tese acadêmica, discurso panfletário, resmungação casmurra; é sempre uma leitura prazerosa, ágil, leve. Com humor, elemento raro quando se pretendem inteligentes.

sexta-feira, 23 de março de 2012

OS QUE ESTÃO NO SALÃO

   
Contei de minha visita ao Salão do Encontro, mas deixei de fora uma parte muito importante. Quando dona Noemi fez questão de repassar os cumprimentos às pessoas que trabalham ali, eu senti a sinceridade do gesto. Porque cada uma que conheci, me passou a sensação de estar fazendo a coisa mais importante de sua vida.          
   Pedi então à Cristina Santos (que foi quem me convidou), coordenadora do programa de leitura, que me ajudasse a lembrar os nomes das pessoas que me apresentaram as várias atividades e os espaços do Salão.
   Ei-las: o Rômulo, coordenador de serviços culturais e a Lourdes, gerente de projetos, que nos receberam com gentileza e bom humor; o Wilson, instrutor de artes circenses, que nos ofereceu um delicioso pastel de vento; o João Paulo, do setor de cerâmica, onde conheci o trabalho diferenciado do Agnaldo; Cristina Silva, do setor de tecelagem; Silmara e Cida, do artesanato; Ângela Batermaque e Lúcia, da creche; Léa e Kátia, coordenadoras pedagógicas, que esclareceram os fundamentos de sua área; a Penha, da Fazendinha, onde as crianças aprendem a "lavar roupa"; a Cleuza, do setor de pintura, que trabalha com pigmentos naturais, faz os pincéis que usa e já esteve na Europa falando de sua experiência; além da Ângela Gumieri, mediadora da biblioteca, que me acompanhou no bate-papo com os jovens, e a Flor, que nos deu apoio.
  Um dado interessante: várias das pessoas que trabalham hoje, entraram ali como crianças aprendizes e ali se formaram como cidadãos e profissionais.

terça-feira, 20 de março de 2012

SALÃO DO ENCONTRO

 
   Há muitos anos ouço falar do Salão do Encontro, espaço cultural em Betim/MG. Vi reportagens na imprensa, amigos relataram a beleza do lugar, mas só ontem me movi para conhecê-lo. Há umas duas semanas, fui convidado para levar minha Baleia Conceição aos leitores de sua biblioteca, e ontem ganhei uma amorosa carona. 
  O lugar é muito bonito, totalmente arborizado; várias salas espalhadas; quadra; circo; auditório; biblioteca; crianças e monitores caminhando, sem pressão, de uma ocupação a outra  - um clima meio Shangri-La na manhã outonal. 
   Disse espaço cultural, mas o Salão do Encontro é mais que isso. Funciona como escola de artes e ofícios; apoio escolar para alunos da rede pública; espaço para reunião de terceiros; loja de artesanato... 
   A pedagogia utilizada é própria, mas tem como embasamento teórico Piaget e outros estudiosos. Quando dizem própria, dizem de sua experiência, validada por 40 anos de prática autossustentável. Autossustentabilidade, aliás, é a base e a origem do projeto, que foi iniciado por dona Noemi Gontijo, hoje com 85 anos e ainda coordenadora de todas as atividades.
   Depois de ler e conversar com cerca de quinze jovens na biblioteca, tive a honra de conhecê-la pessoalmente. Algumas pessoas transmitem força pelo poder da palavra, outras por algo como carisma, mas dona Noemi traz em cada gesto, no bom humor e na convicção do que fala, a vivência de um projeto que deveria servir de modelo para a Educação.
   Quando a abracei e lhe dei os parabéns, ela me cortou: "Para mim, não, parabéns para eles - e ampliou o espaço com a mão que não segurava a bengala -, eles é que fazem isso aqui."


  (A história e a ação do Salão são muito mais que este relato. Vale visitar o site: http://www.salaodoencontro.org.br/)



sexta-feira, 16 de março de 2012

O VELHO PAUL SIMON & OUTROS VELHOS




   Hoje tive a sorte de ver, logo cedo, um link para um clip (chip do clip do ric) de Here comes the sun com Paul Simon, Graham Nash e David Crosby. Uma delícia. Passei o dia, até aqui, na paz: quatro grandes artistas e uma canção eterna.
   Agora, na deixa do almoço, vejo alguns clipes do Paul Simon. Num, ele já bem nem tão jovem, cabelos restantes grisalhos, mas a elegância de sempre: na composição (uma que não conhecia, Father and daughter), no modo de se vestir, na cumplicidade com os outros músicos, na voz... há uma sinceridade e uma leveza nele que me encantam. Lembro de C & N ao seu lado: todos já bastante rodados, mas ainda donos de sua própria onda. Ontem vi uma performance do Cecil Taylor, maravilhosa. Tenho visto, nos últimos 40 anos, esses iluminados envelhecendo apenas a olhos vistos: sua arte a cada dia mais renovada, mais adiante.

   Antes de completar 50 anos, eu ainda me lembro, curti muito a nova idade. Falei, brinquei, comemorei em grandes estilos. Ver esses artistas de que tanto gosto foi um espelho para mim: se chegar a ter cabelos brancos, se esta adolescência acabar, ainda conseguirei manter o ritmo, driblar a retranca, cantar no chuveiro, curtir um barato com a vida?
   Seria uma reza, se fosse o caso de acreditar que seria a reza a manter o jogo em cena. 
   Essa conversa só me faz lembrar que a luta diária é a luta mais sã. Não há futuro depois de amanhã. É melhor batalhar hoje pela sanidade, pelo chão, pelo teto, pelo pão, pela humanidade, pelo texto novo, pelas amizades velhas, pelo que ainda está vivo e pode ser bom que assim se mantenha para que assim eu me mantenha.

sábado, 10 de março de 2012

LUIZ ROBERTO GUEDES

   Conheci num sarau na casa de Marçal, circa 1991 e tal. Ficamos amigos de infância logo de cara. Quase nunca ficamos de cara, mas é assim que funciona.     Dezenas de boas histórias, muita poesia e parceiragem desde lá até cá. Nunca acaba, magari! 
   Mas acabo de ler mais um inédito dele: Meteoritos. Poemas, coleta de mais de 20 anos de produção. Como o mercado editorial não é muito esperto, este livro continua inédito. Oxalá isso se conserte logo, pois é dos melhores que sairão no ano, seja que ano for. 
   Mais uma dobradinha com o ítalobrasuca Fabrizio Wrolli, suas competentes traduções que já rebrilharam em Calendário Lunático (Ciência do Acidente). Prefácio esclarecedor de Eloésio Paulo. Bom, bom, muito bom.
   Não há o que falar demais. Deixo um tapinha e a apresentação do autor.
   Vocês precisam conhecer mais de Luiz Roberto Guedes.


fue un soplo de ilusión


vi ontem aquela mulher
que vemos nos filmes.
veio da cidadezinha
qualquer: fina de modos,
vive sozinha, tem um gato.
dissimuladíssima.
vai-se ver, ela sabe até esperanto.

vimos nosso abismo num átimo.
a fome do outro nos olhos.

e decidimos ser prudentes:
consultamos nossos relógios
e dobramos a esquina para sempre.

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Poeta, escritor e tradutor, Luiz Roberto Guedes nasceu e vive em São Paulo. Publicou, entre outros, Calendário Lunático/Erotografia de Ana K, poemário bilíngue, português/italiano (Ciência do Acidente), Minima Immoralia/Dirty Limerix (Demônio Negro), e organizou Paixão por São Paulo, antologia poética paulistana (Terceiro Nome). Em prosa, é autor da novela histórica O Mamaluco Voador (Travessa dos Editores), Alguém para amar no fim de semana, contos ([e] editorial) e de vários livros juvenis, como Treze Noites de Terror (Editora do Brasil), Armadilha para lobisomem (Cortez) e Meu Mestre de História Sobrenatural (Nankin). Pela editora cartonera Yiyi Jambo, do Paraguai, publicou Air Guitar (contos) e Sol menor (poemas). Colaborou com o poeta Claudio Daniel na tradução de poetas de língua hispânica para a antologia neobarroca Jardim de Camaleões (Iluminuras), e para a antologia poética do cubano José Kozer, Íbis amarelo sobre fundo negro (Travessa dos Editores). Letrista sob o nome de Paulo Flexa, tem parcerias com os compositores Luiz Guedes & Thomas Roth, Beto Guedes, César Rossini, Madan, Ronaldo Rayol, Chico Medori, Fabio Stefani, Ivaldo Moreira e Luís Rodolfo Souza Dantas. Com Madan, compôs Vamos Todo Mundo, uma canção-tema, no Brasil, para a Marcha Mundial Pela Paz e Não-Violência (2009

terça-feira, 6 de março de 2012

A VIDA SEM INTERNET

COISAS DO DESTINO: bom título para telenovelão, mas foi o que pensei agora, ao repassar alguns fatos de hoje, incluindo pensamentos que, quando são meus, (o) são (de) fato.
Esperando o ônibus, pela manhã, concluí que chegara a hora de dar uma pausa no facebook. É que antes de sair de casa, vi algumas coisas que me deixaram meio assim... com preguiça; refleti sobre vaidade, irresponsabilidade, exibicionismo, fome de fama, falta do que fazer... E em como foi boa minha noite de ontem: desenhei durante duas horas, imerso. (Estou sem TV paga nem gratuita há algumas semanas.)
Mas logo o vício e uma passageira falta de trabalho lá no meu trabalho acabaram me conectando. Lá estava eu feicebukeando, proseando com amigos, ouvindo canções dicadas por gente que nem conheço, sabendo das novidades (BH orgulhosamente anuncia que dois hotéis de muitos andares começarão a verticalizar a ainda bela região da Pampulha) e me divertindo, como sempre.
Depois do almoço, talvez por ser sexta-feira, a internet saiu do ar. Ficamos, alguns, meio sem o que fazer também.
‘Garrei a ler (considerem: há dezenas de livros na minha sala), fiz um desenho com o Paint, joguei um pouco de paciência (matei saudade), revi colegas que não via há meses... E lembrei de como fui resistente, há alguns anos, a instalar internet em casa e a ter meu próprio email e... Uma colega, mais novinha, a certo momento manifestou espanto: “Como as pessoas trabalhavam sem internet? E sem computador?”
Lembrei da Olivetti de esfera e da Underwood para tabelas que eu usava quando cheguei à Secretaria... Lembrei de outras coisas e pessoas interessantes também.
Agora há pouco, início da noite, cheguei em casa e vim logo conferir a CP (tantas mensagens esperando por mim), mas – surpresa! – aqui também estou sem internet!
Então para comemorar uma cesta de reflexões, coloquei para rolar os Beatles, abri uma lata de cerveja e vim desejar um ótimo fim de semana a você!
(PS.: terça-feira, dia 6: depois de fazer este texto, desenhei mais um pouco - é uma série de 3: tempo ganho.)