sexta-feira, 14 de setembro de 2012

AINDA QUER PARAR? ENTÃO TOME!

 
   Esta é a parte mais divertida do tratamento para fumantes inveterados: contar o que fiz sabendo que por mais que vocês, pobres dependentes, tentem fazer igual, nada, nada vai funcionar. Alguém, ao ler a primeira parte desta farsa, disse que parou parando. Excelente. É isso mesmo. É a única maneira. O que podemos mostrar de bastidores é o que se segue.
   "'O cigarro mata aos poucos.' Como não tenho pressa, vou continuar fumando." Ok, faz sentido. Desde que no caminho até lá eu não me sinta mal. Por que vou fazer uma coisa que faz eu me sentir mal? Até que ponto chega a minha estupidez humana? E preciso separar este mal:
a) biologia: falta de fôlego e de energia/disposição;
b) social: o número de não fumantes está aumentando. Daí o anfitrião, muito educado, informava: "Cinzeiro? Tenho não, mas usa este pires de porcelana chinesa (ou uma tampinha de maionese), fique à vontade." E para não me sentir ainda mais deslocado, ia fumar na área de serviço, soprando fumaça pela janela;
c) erótica: feder a cinzeiro cheio não deve ser nada excitante.
   Para sair de minha casa, onde quer que eu vá, preciso subir ao menos uma ladeira íngreme.
   Eu usei, sem pagar cachê, alguns bons amigos como modelos: os chatos, que sempre faziam careta quando eu acendia os meus cigarros, que me faziam discursos, que me enchiam o saco, enfim. Eles tinham razão, eu sabia. (Mas quem vai dar cartaz pra chato?) Pensar nesses bons amigos é uma forma de me manter no bom caminho.
   Basicamente, eu me dispus a acreditar que era melhor não fumar que fumar. Criei ou adaptei frases que me repito (repito: a gente só é ex-fumante de verdade até o próximo cigarro não fumado) sempre. Coisas como: olha que ridículo; ainda bem que não fumo mais; se ainda fumasse teria que deixar os amigos na mesa e ficar sozinho lá fora; engordei, mas a saúde está boa (é verdade, segundo o médico); nossa!, antigamente essa corridinha me deixaria quase morto; é, o número de fumantes está diminuindo - coisas assim.
   Aí surge também o discurso de que o anti-tabagismo é uma campanha da direita para não-sei-o-quê dos indivíduos. Ah, tá.
   Ainda me sinto melhor sem.
   
  

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

QUER PARAR DE FUMAR? PERGUNTE-ME COMO!

  
   Ex-fumante há quase dois anos, estou me tornando uma lenda, digo, referência para alguns amigos que querem, mas ainda não conseguiram parar. Às vezes algum me pergunta qual foi o truque (obviamente tentando diminuir a importância do meu gesto), ou a receita (achando que a um clique se resolve tudo); às vezes sou eu que tento sensibilizar alguém afirmando que agora estou me sentindo muito melhor (ex-fumante é um chato, não tem jeito, está na essência).
   Há alguns dias, uma cliente, digo, leitora, melhor, facefriend, implorou que eu a ajudasse com o problema (dela). Prometi pensar no assunto e como faço isso melhor (rsrsrs) escrevendo, vou me esforçar aqui para contar minha história (opa, boa, a coisa vai se complicando) e meu método revolucionário para a libertação total (não disse eterna) do vício maldito, mais conhecido como tabagismo.
   Comecei a fumar com os amigos da Turma da Marieta (Machado, rua em Sabará), quando tinha uns 11 anos de idade. Significava, aos sábados à noite, comprarmos um Arizona e, encostados na Ponte do Géo, cometermos o terrível crime como gangsteres num filme noir. Só comprei o primeiro maço quando recebi o primeiro salário (gosto de pensar que isso é verdade, mas não garanto nada); antes costumava roubar o Minister do meu pai, dentro de casa. Da adolescência em diante fumei normalmente. Optei pelo Hollywood. (Certa madrugada, já fumante inveterado, tive um acesso terrível de tosse. Decidi que precisava fazer alguma coisa. Mudei para o Free, que se anunciava como mais fraco.) Foi um tempo em que fumar fazia parte da vida social.
   (Ops, uma informação relevante: eu fumava "escondido" dos meus pais. Uma noite, sozinho, bebendo e fumando na varanda, não percebi que eles estavam chegando - me viram no meio de uma tragada; não falaram nada e a vida continuou.)
   Tive, acho, todas as crises de querer parar; somos todos iguais. Mas parei por três períodos maiores: 6 meses (engordei 10 quilos), 4 e 11 (voltei com um traguinho num domingo de sol perfeito na praia em Arraial D´Ajuda). Ter conseguido esses 11 meses foi o que me fez acreditar que um dia eu pararia de novo, para sempre (outra ilusão - a gente para até o próximo cigarro não fumado).
   Por alguns meses antes de 25/10/2010, percebi que estava fumando mais do que o razoável. Uma medida que dá ideia do ritmo: dois cigarros para cada latinha de cerveja. Esta percepção foi o sinal que me informou que o momento de parar estava próximo. Não era uma fantasia autocomplacente, era uma convicção, a visão de um processo. 
   Convidado para um evento em Blumenau/SC, onde ficaria em hotel, aproveitei para dar um pulo em Porto Alegre/RS, onde ficaria na casa do Ernani Ssó. Esta foi a marca que escolhi para parar: 25 de outubro, segunda-feira (clássico), véspera da viagem. "Os gaúchos têm tradição anti-tabagista" é uma bobagem que o Marcelo Carneiro da Cunha me dissera antes, mas que neste momento me valeu. 
   Bem, frases são parte do meu método infalível (cof, cof) para largar o cigarro.
  (Depois continuo, deixa recobrar o fôlego.)
  

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

ITÁLIA 2012 - 2

   
Continuo me preparando para a viagem. Ontem fiz umas reservas estratégicas. Quase tudo pronto. A emoção de ir é parecida com a da primeira vez. Agora me sinto mais sereno, menos inseguro. Meio que já sei uma parte do que me espera. Mas me lembro de momentos de emoções distintas, 3 de maio de 2009:
fui à Piazza San Pietro. Linda, como a gente vê nos filmes e nas fotos, mas me dei conta de não estar minimamente emocionado. Algo dentro de mim talvez estivesse me preparando para o contrário. Atribuí isso ao meu anticatolicismo - e segui em frente. Alguns minutos depois, passando por uma rua movimentada, entrei na Via dei Tre Archi, um "beco": vazio, carro estacionado e, sem saber até hoje o motivo, chorei.
   Não entender também é bom.