sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

LUGAR DE LIVROS - 2

    Minha irmã Rosa Maria, provocada por minhas memórias, complementa: havia, na biblioteca da casa da rua Álvares de Azevedo, um sofá em curva e pés palito, "estilo anos JK" e uma mesinha de centro marchetada, cujo desenho formava uma paleta de aquarela. 
    E ela lembra de outros livros que havia lá: a coleção O Mundo dos Museus, História da Arte (Élie Faure, Estúdios Cor, Lisboa, 5 volumes: Antiga, Medieval, Renascimento, Moderna, O Espírito das Formas), todo o Shakspeare, todo o Érico Veríssimo e os Contos de Andersen.

POSTOS

    O amigo Alexandre Brandão informa que, se eu segui bem seguidas suas orientações, agora já possível deixar comentários (ouviu, multidão?) neste blog.
    E retribuo transcrevendo de memória (rsrs) um poema do Rui Werneck de Capistrano:


POEMINHA DO SABOTADOR SUTIL
Posto Shell
Posto Esso
Posto que é chama

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

LUGAR DE LIVROS

    Meu pai era professor de desenho. Culto, gostava de músicas clássica e popular brasileira e jazz (jás, como ele dizia). Tínhamos muitos vinis e uma radiola de armário com botões de madrepérola. A casa, onde morei durante os 15 primeiros anos de vida, tinha quintal (café, goiaba, manga espada, lágrima de nossa senhora, laranja vinagreira...), porão, alpendre, jardim e biblioteca.
    Este era o nome do cômodo: biblioteca. Era onde ficava sua escrivaninha de trabalho, o piano de minha irmã, um sofá e, claro, os livros. Eram duas estantes de aço ladeando a porta. Totalmente ocupadas. Eu e meus irmãos tínhamos acesso a todos eles: O Reino Infantil, O Mundo da Criança, todo o Monteiro Lobato, Enciclopédia Delta Júnior, Barsa, Tecnirama, todo o Júlio Verne, O Tesouro da Juventude, a coleção Vida das Grandes Personalidades, Ascensão e Queda do Império Romano, as coletâneas de romances da Seleções do Reader´s Digest, Winnetou, todas as Fábulas de La Fontaine, Contos dos Irmãos Grimm, a coleção Saraiva de romances e tantos outros.
    Eu li praticamente tudo isso antes dos 15 anos. (Óbvio que este ler significa, muitas vezes, apenas ter folheado os livros, tentando ler de verdade ou vendo gravuras.)
    Isso não fez de mim um erudito, mas um apaixonado por livros e bibliotecas.
    Em algum momento no início da vida escolar, fui nomeado ou eleito algo como “presidente da biblioteca” da sala. (Ou eu sonhei isso? Havia uma “biblioteca” em cada sala de aula? Talvez fosse uma estante e eu fosse um tipo de zelador...) Logo que adquiri autonomia para frequentar a biblioteca do colégio (Batista Mineiro), fiz meu cartão de leitor.
    Nunca mais parei de ler. Nem digo que é um vício ou uma missão ou qualquer coisa assim. É apenas continuar fazendo o que eu comecei antes ainda de aprender o alfabeto, antes de entrar na escola.
    Quando pude acessar a biblioteca estadual “Luiz de Bessa”, também me cadastrei (ou melhor, me associei). Lembro de em algum momento ter guardados em casa dez cartões carimbados de ambos os lados.
    Essas coisas fazem parte do que eu sou.
Ah, havia também uma máquina de datilografia Olivetti Studio 44 que está comigo até hoje.
    Mas este é o outro lado da história.
    Ou dos livros.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

THE SHOWS MUST GO ON

   
   Ouvindo Nick Cave, lembrei do show dele que vi aqui em BH, no já então ex-Cine Santa Tereza. Faz tempo isso. Coisa de Marcos Boffa. Havia também um octeto de contrabaixos. Alemães, um som muito legal. Lembranças. Nick Cave desceu do carro que o trouxe do hotel carregando um copo de plástico cheio de vodca (não, não devia ser água).
   Na tarde do show da Patrulha do Espaço (no Mackenzie, palco dividido com Ricardo Petraglia e Syndicato. Quando foi isso, Dolabella?), quase trombei com Arnaldo Baptista na esquina de Caetés com Rio de Janeiro. Ele estava vestindo uma jardineira jeans. A imagem ficou muito nítida na memória. Agora, há poucos anos, ele aparece no seu documentário usando a mesma roupa. Fiquei com uma sensação de intimidade. Bobagens de fã.
   Mackenzie. Quantos shows legais eu vi ali. O Terço e Os Mutantes em homenagem aos Beatles. Os Novos Baianos (mais de uma vez). Os Doces Bárbaros (foi nesse que a torre de luz caiu sobre a plateia e milagrosamente não machucou ninguém?). Rita Lee e Tutti Frutti. Após um desses shows, sobrei sozinho sem dinheiro pro ônibus e voltei a pé pra casa. Uma distância que era muito maior que hoje, de madrugada. Tempos de segurança.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

OS QUINTAS DOS INFERNOS

   Hoje vou me encontrar com alguns amigos muito queridos, em reunião ampliada dos Quintaneiros, ou Infernais. 
   Há alguns poucos anos, após uma ótima noite de boa conversa, eu, Luís Giffoni, Jeter Neves e Francisco de Morais Mendes nos demos conta de que já fazia tempo que não nos encontrávamos. Combinamos de agendar uma reunião quinzenal, sempre às quintas-feiras (única noite livre do professor Jeter). De lá para cá a turma passou a contar com as presenças de Antonio Barreto, Rodrigo Leste, Maurício Meirelles e Caio Junqueira Maciel.
   Além do fato de sermos escritores, o que isso pode importar para este blog?
   Primeiro: é, para mim, um dos melhores momentos em que falo de literatura. Continuo aprendendo mais conversando sobre ela com escritores que nos livros de teoria.
   Segundo: estamos escrevendo um romance, que já passou das cem páginas. Estabelecemos um personagem principal, uma situação vaga e uma sequência: a partir do primeiro capítulo escrito pelo Caio, autor da ideia, cada um vem dando continuidade ao trabalho do parceiro anterior.
   Há algumas semanas não surge capítulo novo. Esta pausa, involuntária, me faz repensar o projeto. E a melhor conclusão a que chego é: estamos nos divertindo, daqui a pouco alguém retoma o fio e a história continua.
   Enquanto isso, tim-tim!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

LINHA DE PASSE COM CALVINO


   Estou lendo as Seis propostas para o próximo milênio.(Taí, eu gostaria de ter conhecido o Calvino. Devia ser um cara muito legal. Ele e o Keith Moon.)
   Como não tenho o hábito de sublinhar trechos, vou ter que reler (oba!) este livro algum dia, só para tirar frases e informações especiais.
   Mas o que quero propor a você, eventual leitor, é ampliar em ao menos uma as propostas dele, que são: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência, que ele não chegou a escrever.
   No filme Agente 86, o personagem de Steve Carrel machuca o pé; ao caminhar, afastando-se da câmera, manca, por uns dois passos, imitando o andar característico de Carlitos. Li assim, e achei uma bela e sutil homenagem.
   Então pensei (e não fui muito longe – por isso estou passando a bola) que a sutileza, na literatura, pode ser um valor em si.
      (Não chega a ser uma proposta para este nem para o próximo milênio. Mas é algo que eu gostei de pensar.)

COMO NASCEM AS BALEIAS

para Elvira Vigna


Muito mais pessoas do que eu esperaria (se tivesse previsto isso), têm me perguntado se as baleias realmente têm um olho de cada cor. Imagino que não. O mais perto que cheguei do olho de uma baleia foi com a foto feita por Amyr Klink em sua viagem famosa.
Mas isso me dá a chance – e o prazer – de registrar aqui como surgiu o texto d´A Baleia Conceição, meu primeiro para crianças, lançado em novembro pela Saraiva. A motivação vem também da leitura, que estou fazendo agora, das Seis propostas do Calvino.
Numa tarde triste de 2010, sozinho em casa, resolvi testar umas canetas hidrocor que havia comprado. Rabiscando aleatoriamente, a certo momento “vi” uma baleia no papel, e achei engraçado ela ter olhos coloridos. De pronto me veio a frase, justificando o fenômeno: “Todo mundo sabe que as baleias têm dois olhos, um de cada cor.”
Breve reflexão: sempre informo, quando me perguntam, que não acredito em inspiração. Estou, o tempo todo, atento para qualquer coisa (palavra, frase, visão, lembrança, ruído, atrito etc.) que possa dar em literatura. Agora, com alguns anos de estrada, uma oportunidade desta não me escaparia: a frase já veio com cheiro, cor, sabor, textura...
Animado com a possibilidade, peguei o caderno e, numa tacada, fiz a primeira versão do texto. A “guia” principal, naquele momento, foi a voz que dizia o texto, meu narrador: um professor engraçado contando a história de Conceição (que nasceu com outro nome) e dando informações científicas sobre as baleias.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

GENTE LENDO GERA GENTE LENDO...

... no Parque Municipal: é o Ponto de Leitura mantido pela Fundação Municipal de Cultura: meia dúzia de mesas e de estantes, cadeiras e centenas de livros, revistas e jornais à disposição dos passantes. No último dia 11/12, registrei oito duplas de pais e filhos lendo juntos (além da regular centena de usuários dominicais). Isso é muito comum, mas, certamente por ter feito, há duas semanas, uma camiseta com a frase título deste texto, essa imagem me soou mais viva.
Eu tenho certeza que ler é melhor que não ler; ler mais é melhor; que um coletivo leitor é melhor; quanto mais indivíduos lerem, melhor será o coletivo; etc. etc.
Por isso me entendo melhor sabendo que sou um mediador de literatura: quando leio esperando o ônibus e durante a viagem, nas salas de espera, no trabalho (sou um cara de sorte); quando divulgo o que escrevo, falo sobre literatura ou leio em público, comento o que li e o que me falam sobre leituras; ao realizar as oficinas de contos para jovens escritores; quando reafirmo, como aqui, minha fé num mundo melhorado através da literatura, estou me dando como exemplo daquilo em que acredito.
É muito comum, também, ver pessoas passarem por entre as estantes e mesas do Ponto sem se darem conta de sua presença, como se fosse um universo paralelo. Compreensível. Nosso trabalho, nosso esforço (de formiguinhas) é fazer com que essas pessoas saibam que há este universo para que possam optar.

sábado, 10 de dezembro de 2011

TANTA TEVÊ

Fabíola Farias me conta que recebeu o funcionário do IBGE que, depois de saber que havia uma TV na casa, espantou-se: “Mas não são X pessoas, X cômodos... por que APENAS uma televisão?”
Ela já foi a Rainha da Sala, elogio irônico que dava conta de sua recém excessiva influência nos lares brasileiros. Isso nos anos 1070, creio. Hoje... Três situações para ajudar a dimensionar seu reino:
1 – O pequeno bar tem uma TV ao fundo e um rádio à porta. Ambos estão sempre ligados. Eu tentava argumentar com o proprietário: “Ninguém está assistindo, desliga isso, deixa só som.” Ele contra-argumentava que um freguês poderia ainda entrar e... O barulho tornou-se insuportável.
2 – Primeira manhã em um ótimo flat em Natal/RN. Sento-me pro café e a maldita, ligada, dava notícia de alguém que matara o vizinho porque este havia chutado o cachorro... Pedi ao funcionário que a desligasse, ninguém estava assistindo. Indignado com meu pedido, quase me perguntou de que planeta eu era, antes de negá-lo.
3 – Primeira noite em um ótimo flat em Jaraguá do Sul/SC. Sento-me ao balcão para uma cerveja enquanto espero Carlos Schroeder. Eu e duas funcionárias. Pergunto por que a danada, lá longe, está ligada, se é ordem da gerência... A simpática Ilza diz que “é assim mesmo. Meu filho, em casa, também só desliga quando o padrasto chega, às 11 da noite”.
Nossos comerciais.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

BALANÇO DE 2011

Estou pensando que o meu 2011 foi, até agora, tão suingado, que merece um balanço.
Trabalhei as duas oficinas semestrais de conto no Letras e Ponto; dei várias oficinas de leitura nos centros culturais da Fundação; lancei um livro de contos, Silas, pela Jovens Escribas, em BH, Natal, João Pessoa, Fortaleza, Recife, São Paulo e Rio; participei, ao lado de outros 22 camaradas, da criação do Coletivo 21, que lançou uma antologia homônima pela Autêntica, em BH e São Paulo; tive um conto e um trecho do Diz Xis incluídos nas antologias Rock Book – contos da era da guitarra (Prumo) e Aos pés da letra (Annablume), respectivamente; a editora Saraiva lançou meu primeiro livro para crianças, A Baleia Conceição; dei oficina de leitura para 40 estudantes de Letras e Pedagogia na 1ª Ação Potiguar de Incentivo à Leitura, em Natal; dei oficina de conto para dez escritores de Jaraguá do Sul/SC, na sua 1ª Semana do Livro; participei de mesas no Fórum das Letras, em Ouro Preto, na Balada Literária, em São Paulo e na APIL, em Natal.
Escrevi, li, troquei informações com meus companheiros, fiz uma e outra revisão literária, gravei para os programas Imagem da Palavra e Entrelinhas...
Um bom ano, sem dúvida. Sem ponto final.

E FEZ-SE BOOK - 4

Estou pensando na literatura feita para crianças. Melhor: em algumas pessoas que escrevem para crianças. E que lançaram seus primeiros livros por estes dias.
Como Ana Elisa Ribeiro, professora doutora e poeta e cronista. Seu livro mais recente de poesia se chama Fresta por onde olhar. Muito bom. Ajudei na concepção da capa (casa do Bruno e Lelé, churrasco). E seu primeiro livro para crianças é Sua mãe (Autêntica). Tão bom quanto tudo o que Ana faz.
E Rosaly Senra, bibliotecária que é jornalista, responsável por um dos melhores programas de rádio sobre literatura, o Universo Literário. Rosaly, como o inesquecível Alécio Cunha, lê os livros e tudo o que for possível antes de entrevistar os escritores. Sua estreia no reino infantil é Otto (Peirópolis). Que estava no lançamento, ao vivo, autografando com a tia.
Há também Ana Carolina Neves, cujo Pantanáutilus (FTD) eu pude ler no original há algum tempo e contribuir com sugestões críticas. Mestre Antonio Barreto também leu e criou este título perfeito. Ele também assina as orelhas do livro. Ana é bióloga, doutora, e a perícia com as palavras a coloca bem próxima de seu pai, o grande Jeter Neves.

E FEZ-SE BOOK - 3

Estou pensando na oficina de leitura que dei em Natal/RN nos dias 19, 20 e 21 de outubro. Foram três tardes com quarenta estudantes de Letras e Pedagogia. Dentre eles, Thiago Gonzaga (http://101livrosdorn.blogspot.com/).
Cuja história eu resumo aqui: até 2004, ele tinha apenas a 3ª série do Fundamental, e já era quase adulto. Um dia, como num conto de fadas, viu uma foto de uma moça bonita no jornal que embrulhava “o peixe de ontem”. Agradou de olhar e ficou curioso sobre o que o texto dela dizia. Leu, gostou e naquele momento decidiu: “vou estudar Letras para poder ler e falar de literatura para as pessoas”.
Neste dezembro de 2011, ele se forma em Letras, ou seja: em sete anos ele se alfabetizou, passou no concurso de fiscal da prefeitura, passou no vestibular e está prestes a realizar seu sonho através de um projeto a que se candidatou: viajar divulgando a literatura potiguar e tantas outras a que teve acesso.

Detalhe 1: o primeiro livro que ele leu completo foi de Carlos Fialho, capo da editora Jovens Escribas, que editou meu Silas este ano.
Detalhe 2: a moça bonita do jornal é Clotilde Tavares (O verso e o briefing: a publicidade na literatura de cordel, Jovens Escribas), escritora de Campina Grande, irmã de Bráulio Tavares a quem ela, conforme me confidenciou na mesa do bar Onde o vento faz curva (excelente batata com filé), ensinou a ler-escrever e tocar violão.


E FEZ-SE BOOK - 2

Estou pensando na sorte que tenho como leitor. Além de ter lido caras pouco lidos pela imensa massa de leitores nacionais e ainda ter podido trocar correspondência pessoal e impressões com eles, leio originais.
Desses, há dois blocos: os trabalhos produzidos nas oficinas que dou e os amigos que me dão a honra de ler os seus. Aliás, por manter essa prática há muitos anos (trocar originais para revisão crítica), passei a dar oficinas formalmente em 2004, no Festival de Inverno de Diamantina, por indicação de Ricardo Aleixo.
E com ele começo esta prosa de versos.
Desde que nos conhecemos, temos trocado impressões que vão das digitais dos copos de cerveja a teoria da literatura – da nossa literatura, claro. Pude manusear os originais letra-setados de Festim, saboreando a batida de limão de seu Américo e, mais recentemente, os poemas não gráfico-visuais de Modelos Vivos. Para mim estava claro que Rique estava com seus poemas mais completos, aquele era seu livro da maturidade. Vê-lo pronto, com projeto de Bruno Brum, na profissional e caprichada edição da Crisálida, foi ter a sensação de que passar um ano entre os humanos pode valer a pena.
Por falar em Bruno Brum, ele acaba de lançar Mastodontes na sala de espera, também pela Crisálida. O livro venceu o concurso de poesia do governo do estado de Minas, mas isso nunca será o bastante para o verdadeiro poeta. Brum editaria o livro e precisava editar aquele material pensando no objeto que o conteria. A parte visual ele faz de olhos fechados, pois é profissional da área. O diabo é se contentar com o que se tem, ainda mais depois de ganhar prêmio. Outros amigos seus deram seus pitacos (e o título? Onde está o título?) e eu fui talvez o último a fazê-lo. Tenho um baita orgulho desse Mastodontes.
Assim como de A fera incompletude, que Fabrício Marques lançou neste setembro, pela Dobra. Li parte dos originais faz mais de ano. Na hora do autógrafo, o poeta me lembrou de detalhe do que lhe disse à época. E já comecei a ler no ônibus para casa. E a pensar: que tempo este nosso, que maravilha ser contemporâneo de poetas como Fabrício, que usa o que a poesia permite de lirismo com rara inteligência lingüística e a sensibilidade de quem viveu, de alguma forma, na tábua da beirada.

E FEZ-SE BOOK - 1

Alguns escritores jamais se tornarão famosos. Acho que os melhores escritores nunca são famosos. Estou pensando em quatro desses, criadores. Sou um leitor privilegiado por conhecer os textos de Uilcon Pereira e Reinaldo Santos Neves e Manoel Carlos Karam e Jamil Snege.
Uilcon morreu e eu não cheguei a encontrá-lo. Quando estive em Marília/SP, na época em que morou lá, chegamos a agendar, mas ele precisou viajar e eu perdi essa. O poeta Eloésio Paulo tem um trabalho bastante bom sobre a obra de UP. O que mais me agrada nela é a ousadia da colagem, longos textos de colagens; o elogio da fofoca, quase tudo reunido na trilogia “No coração dos boatos”.
 Reinaldo Santos Neves conheci através de “As mãos no fogo”. Fiquei fã na hora. Depois fiquei amigo, pudemos nos ver duas vezes em bares de praia no Espírito Santo, onde ele mora. De sua produção mais recente há “Kitty aos 22”, “A ceia dominicana” e “A longa história”. Todos ótimos, mas registro o projeto “A crônica de Malemort”: romance passado na idade média, escrito em português, traduzido (e ampliado) para o inglês e, agora, com o patrocínio do projeto “Escritor Residente” da Biblioteca do ES, traduzido para o português e muuuito ampliado novamente, sob o título “A Folha de hera: romance bilíngüe”. Acabo de ler a primeira parte (será uma trilogia). Literatura de altíssimo nível, como tudo o que ele faz. Eu e a meia dúzia de malucos que encaramos suas 451 páginas, aguardamos ansiosos a continuação.
Manoel Carlos Karam me deu a honra de ir ao lançamento de meu “Coleta Seletiva” em Curitiba, onde ele morava. Conversamos pouco, ele tinha que voltar ao trabalho (na TV?), mas guardo uma foto nossa feita pelo Rui Werneck de Capistrano. Seu “Pescoço ladeado por parafusos”, editado pelo Joca Terron, é sensacional. Alguém precisa ver se o Marquinhos, da Mercearia, ainda tem exemplares do saldão da Ciência do Acidente. Mas também morreu, uma pena. Tanto canalha ocupando páginas de jornal e esses caras maravilhosos nos deixando sós.
E o Jamil Snege, que deve ter sido um baita cara legal (inclusive pelas histórias de mal humor que já ouvi contar). Também perdi a chance de conhecê-lo quando estive em CTB, acho que ele estava gripado, algo assim. Autor de “O jardim, a tempestade”, um dos melhores livros que já li. Guardo seus autógrafos carinhosos em “Como eu se fiz por si mesmo” e “Viver é prejudicial à saúde”, entre outros, como preciosidades.
E são, para mim, leitor apaixonado.

COMEÇANDO UM BLOG

Depois de ter feito alguns textos curtos para o blog do Coletivo 21, me dei conta de que poderia ter meu blog também. Sempre achei, desde que os blogs surgiram, que não teria assunto o suficiente para manter um. Só agora me dei conta de que posso registrar minhas leituras (atuais e passadas) e outros assuntos relacionados à literatura e à cultura. Servirá como exercício de escrita, diálogo comigo mesmo (= apoio para reflexão), enfim, mais uma forma de passar o tempo.
Vou começar reproduzindo os "E fez-se book", série que criei para o blog do C21.