sexta-feira, 30 de novembro de 2012

RADUAN NASSAR

RADUAN NASSAR, homenageado da @[100001561654714:2048:Balada Literária] 2012, na BALADA. Dia 29.11, dois dias depois de fazer 77 anos.

Foto: @[1135062099:2048:Mario Miranda]

Numa de minhas muitas viagens a São Paulo, a partir de meados dos anos 1980, pedi a Marçal que marcasse um encontro com Raduan Nassar. Ele havia me enviado um bilhete comentando minha novela Diz Xis, e como já era fã dele... Gentilmente nos recebeu em sua casa. Conversamos e bebemos um pouco. Foi uma noite especial para mim.
   Quando fui lá para lançar meu 79/97, convidei-o, sem muita esperança de que ele fosse se dar ao trabalho. Pois quebrei a cara: não só foi como ficou um bom tempo conversando comigo. A certa altura me disse: "Você está bem, tranquilo, sereno..." Expliquei que aquilo era resultado de algum tempo de terapia. "E você não tem medo de parar de escrever?" Demos risada.
   Em 2000, voltei ao Barnaldo para lançar Materiaes. Desta vez ele não foi, mas na primeira noite ao chegar em casa, me liga e, depois de justificar sua ausência, me relembra: "Esse negócio de sucesso, fama... é tudo bobagem, Fantini. Isso tudo passa logo."
   Nosso último encontro (até agora, espero) foi em BH: ele e Chico Buarque fariam uma leitura à noite, dentro do projeto Sempre um Papo, e ele me convidou para almoçar no seu hotel. Caí na besteira de arriscar uma codorna ao molho de jabuticaba; ele pediu um filé. Quando os pratos chegaram, ele chorou de rir zombando da esqualidez de minha ave; quase aceitei sua oferta de meiar o seu bife. Depois do almoço, conversamos mais um bocado (e ele contou a chantagem emocional que um "jornalista" local lhe fez para conseguir uma entrevista exclusiva).
   Recentemente estive em São Paulo para lançar Silas. Ligamos pra ele, mas com uma voz que revelava um homem abatido, me disse que estava se sentindo velho e adoecido demais para sair de casa.
   Por isso me emocionei agora ao vê-lo com seu delicioso sorriso, barba mal feita, na Balada Literária, ontem. Por isso compartilho aqui essas memórias.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

GIRO d'ITALIA - fotos


GIRO d'ITALIA - 3

   
   Deixei de fazer um dos passeios que mais queria: Cinqueterre. Vi várias fotos, um blog com dicas, preços... tudo. Na sexta, em Lucca, quando sairíamos, choveu. Choveu até meio-dia, o bastante para atrapalhar. Acabamos ficando por lá mesmo, na maravilhosa cidade histórica. Ficou na minha lista para quando retornar à Itália.
   Em compensação, fomos a Siena, que não estava nos planos. Um conjunto medieval de fazer cair o queixo. Ruas estreitas, igrejas pequenas, igrejas imensas, castelos, paisagens de morros, casario imenso, ladeiras e a Piazza del Campo! Um dos conjuntos arquitetônicos mais bonitos que já conheci (mas eu conheço pouco).
   Deixei de conhecer o região dos vinhos da Toscana! Ah, queria tanto. Mas havia uma dificuldade logística de transporte/horário... Sonhei com Montepulciano e outras cidadezinhas de montanhas... Também ficará para a próxima.
   Mas andei muito mais por Roma. Caminhei dezenas de horas nas duas semanas que passei lá. Apesar de ser uma "cidade grande", tem encantos e recantos muito especiais. Fui a alguns restaurantes e bares (falar nisso, confidencio: sempre que possível, comprava uma cerveja e saía com ela pelas ruas, uma delícia que aqui em BH não teria a menor graça), fui a museus, fui a igrejas e à embaixada brasileira, voltei a todas as praças que estavam ao meu alcance, incluindo a Piazza del Popolo e a Villa Borghese, (pela primeira vez...).
   Sempre gostei muito de uma canção de Milton Nascimento chamada Trastevere. Finalmente conheci o bairro: um dos lugares mais mais incríveis de Roma. É uma região boêmia, muito muito charmosa. Nos hospedamos lá por uma semana, num apartamento maneiro no meio da muvuca. Quero morar em Trastevere quando crescer. 


terça-feira, 13 de novembro de 2012

POETA GILBERTO NABLE


   Esta corrente de amigos que vão chegando, infindavelmente, é das coisas boas da vida. De ter escolhido me manter na literatura.
   (Não me canso de falar isso porque isso não se cansa de satisfazer.)
   Lançamento de Roniwalter Jatobá em BH, 01/09. Muitas pessoas de suas relações, festa boa, e ele me apresenta Gilberto Nable. Gente fina. Identificamos como "o amigo em cuja casa almocei aquela vez antes de me encontrar com vocês". Ok, damos risadas com um detalhe daquele dia - e segue a festa.
   Lançamento do programa de governo da campanha de Patrus, praça de Santa Tereza, reencontro Gilberto e sua companheira Maria Célia Ferrarez. Sentamos no Bolão, tomamos umas cervejas, ótimo papo. Célia me presenteia seu livro Duas luas, uma guerra. Crônicas deliciosas, memórias cheias de poesia.
   Mais algumas semanas e Gilberto me passa dois livros de poemas: Percurso da memória (2006) e O mago sem pombos (2008, ambos pela 7 Letras).
   Ele tem uma poesia construída, articulada, densa, muito fundada também nas próprias memórias. Poeta de qualidade, consciente do material que domina sem exibicionismo; meticuloso, na medida certa para envolver o leitor. Não é poesia derramada, mas tem as dosagens exatas de emoção para nos manter ligados.
   Mais um escritor para minha estante, mais um amigo para nossa mesa.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

GIRO d'ITALIA - 2

  
 Faz tempo ouvir dizer que os italianos gostam tanto de sua língua que todos os filmes por lá têm legenda, é tudo dublado. Achei bonito, ufanismo deles. A realidade é outra...
   Nesta ida, pela Alitalia, madrugada insone, quis ver filme. (Em 2009, pela TAP, vi, legendados, Milk e Gran Torino.) Todos dublados! Apesar de saber um pouco de italiano, achei isso um porre, de cara. Lembrei daquele ufanismo antigo... Só queria ver uma bobagem qualquer para dar sono. Acabei vendo uma bobagem qualquer e treinando um pouco il mio sporco italiano
  Aí tive oportunidade de ver TV no hotel. Muito bom conseguir compreender o noticiário. Mas eis que vai começar um Law & Order. Insuportável! E era um episódio que eu já tinha visto... Aí aparece uma novela brasileira! Dei risada, tudo muito esquisito.
   Com todo respeito ao trabalho dos dubladores (crianças e adultos analfabetos precisam muito deles), acho que a dublagem, principalmente de bons filmes ou seriados, tira muito do prazer da obra, pois perde-se todo o trabalho de voz do ator. (Podemos brincar que para muitos atores pode ser um ganho (como Paulo Coelho ganhou ao ser traduzido - cf. Os dez pecados de Paulo Coelho, de Eloésio Paulo), mas imagine qualquer bom momento de seu ator favorito na voz de outra pessoa, em outra língua...).
   Voltando, agora, pela Alitalia, vi uma ótima ficção-documentário italiana sobre um atentado anarquista nos anos 1970.

GIRO d'ITALIA - 1

   
   Antes de viajar, no fim de setembro, pensei em fazer algumas reflexões aqui sobre o que foi a ida em 2009 e sobre o que seria voltar agora. Para minha sorte, a vida corrente foi mais interessante e o projeto ficou, como sói acontecer, na prancheta.
   Mas agora, não; agora será diferente: vou registrar algumas lembranças desses dois passeios, que são, mais o primeiro que o segundo, as coisas mais importantes que andei fazendo.
   Gosto de viajar de avião. Gosto de pensar que estou 10 km acima do oceano numa máquina que pode cair a qualquer momento. Sei, não é agradável dizer isso, mas faz parte de mim, a morte. E acho que só penso porque tenho a convicção de que nós vamos chegar intactos ao outro lado, digo, ao outro lado do oceano.
  Antes de decolar de Lisboa (2009), o piloto, depois de uns 30 minutos de atraso, informou: "Tivemos um pequeno problema na turbina, que eu não sei qual é, mas já estamos partindo." Olhei em volta, ninguém achou aquilo estranho! "Como assim? 'um pequeno problema na turbina' e o cara que vai nos levar Atlântico afora não sabe de que se trata?" Horas depois, quando atravessamos, céu azul, uma "pequena turbulência" por 40 minutos, fiz anotações menos engraçadinhas no meu diário, a bordo...