sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

E FEZ-SE BOOK - 1

Alguns escritores jamais se tornarão famosos. Acho que os melhores escritores nunca são famosos. Estou pensando em quatro desses, criadores. Sou um leitor privilegiado por conhecer os textos de Uilcon Pereira e Reinaldo Santos Neves e Manoel Carlos Karam e Jamil Snege.
Uilcon morreu e eu não cheguei a encontrá-lo. Quando estive em Marília/SP, na época em que morou lá, chegamos a agendar, mas ele precisou viajar e eu perdi essa. O poeta Eloésio Paulo tem um trabalho bastante bom sobre a obra de UP. O que mais me agrada nela é a ousadia da colagem, longos textos de colagens; o elogio da fofoca, quase tudo reunido na trilogia “No coração dos boatos”.
 Reinaldo Santos Neves conheci através de “As mãos no fogo”. Fiquei fã na hora. Depois fiquei amigo, pudemos nos ver duas vezes em bares de praia no Espírito Santo, onde ele mora. De sua produção mais recente há “Kitty aos 22”, “A ceia dominicana” e “A longa história”. Todos ótimos, mas registro o projeto “A crônica de Malemort”: romance passado na idade média, escrito em português, traduzido (e ampliado) para o inglês e, agora, com o patrocínio do projeto “Escritor Residente” da Biblioteca do ES, traduzido para o português e muuuito ampliado novamente, sob o título “A Folha de hera: romance bilíngüe”. Acabo de ler a primeira parte (será uma trilogia). Literatura de altíssimo nível, como tudo o que ele faz. Eu e a meia dúzia de malucos que encaramos suas 451 páginas, aguardamos ansiosos a continuação.
Manoel Carlos Karam me deu a honra de ir ao lançamento de meu “Coleta Seletiva” em Curitiba, onde ele morava. Conversamos pouco, ele tinha que voltar ao trabalho (na TV?), mas guardo uma foto nossa feita pelo Rui Werneck de Capistrano. Seu “Pescoço ladeado por parafusos”, editado pelo Joca Terron, é sensacional. Alguém precisa ver se o Marquinhos, da Mercearia, ainda tem exemplares do saldão da Ciência do Acidente. Mas também morreu, uma pena. Tanto canalha ocupando páginas de jornal e esses caras maravilhosos nos deixando sós.
E o Jamil Snege, que deve ter sido um baita cara legal (inclusive pelas histórias de mal humor que já ouvi contar). Também perdi a chance de conhecê-lo quando estive em CTB, acho que ele estava gripado, algo assim. Autor de “O jardim, a tempestade”, um dos melhores livros que já li. Guardo seus autógrafos carinhosos em “Como eu se fiz por si mesmo” e “Viver é prejudicial à saúde”, entre outros, como preciosidades.
E são, para mim, leitor apaixonado.

2 comentários:

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  2. Tenho cá um livro que comprei num sebo em Pouso Alegre com um autógrafo seu para Eloésio... bom, como esse é um nome bastante incomum, imagino que seja o acima citado poeta. Você consta como autor do conto "Por que me tornei estuprador" nesses Contos Jovens, datado de Alfenas, 12/11/87. Não li ainda, então não vou tecer nenhum elogio tardio. Acho legal poder convergir para alguém real através de algo tão impessoal quanto um livro (essa é uma afirmação controversa, eu sei), e é por isso que adoro os sebos. Aprecio em especial as velhas edições da Brasiliense, caso do volume em questão. Também escrevo, mas não faço parte de nada, sou um esquisito. Reuni alguns textos em livros tão desencontrados que sequer mereceriam essa denominação por parte dos conservadores. Mas eles estão por aí, desafiando as convenções. Um abraço.

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