terça-feira, 31 de julho de 2012

TELECENTRO, MODO DE USAR


 
   Segundo a Wikipédia, "telecentro é um espaço público onde pessoas podem utilizar microcomputadores, a internet e outras tecnologias digitais que permitem coletar informações, criar, aprender e comunicar-se com outras pessoas, enquanto desenvolvem habilidades digitais essenciais do século 21."
 
   A inclusão digital tem sua importância, claro, assim como a alfabetização básica universal e o "letramento literário". Numa sociedade "regida pela letra", alfabetizar-se é incluir-se, ser cidadão; ter acesso integral à literatura é um passo a mais para tornar-se um cidadão cultural. (O que significa consumir/produzir os mesmos materiais simbólicos que a parcela dominante da sociedade detém - é um dado político. As outras áreas da arte também compõem este cardápio, mas nosso objeto aqui é a literatura.)
   Em uma cultura contaminada, cada dia mais, pela maquinaria eletrônica, saber dominá-la, ter acesso a todos os seus códigos também é parte da cidadania plena.

   O que se pretende entender é qual uso ou qual o papel um telecentro deve desempenhar se instalado em um centro cultural ou em uma biblioteca.

   Entendemos que ele deve ser direcionado ao consumo de cultura e literatura.

   Os centros culturais não se prestam ao esporte, à assistência social ou a outros ramos da ação pública - por que o computador, ainda um "brinquedo novo" para muitos, deveria servir a quaisquer outros fins (que, de resto, não são necessariamente negativos) que não aqueles aos quais se destinam centros culturais e bibliotecas? Apenas um demagógico e falso democratismo justificaria um uso não direcionado para este esquipamento que, ainda não totalmente conhecido pelos usuários (já leitores?) pode tornar-se, aí sim, um "equipamento desviante" (Benjamim).

   Realizamos uma bem sucedida experiência, de duração limitada a 11 dias (durante um Salão do Livro & Encontro de Literatura): monitores voluntários, estudantes da Fundação Torino, recebiam o público que queria usar os terminais instalados no mezzanino da Serraria Souza Pinto com a orientação de navegação direcionada. Explicavam como acessar com agilidade e mostravam quanto bem cultural há disponível no universo virtual.

   Somos radicalmente contra a censura em qualquer nível, mas acreditamos que é obrigação do poder público orientar as pessoas para o que há de melhor na produção cultural. Para as compras (e doações) de livros há uma Comissão de Seleção de Acervo; para o uso dos espaços dos centros e de todos os outros equipamentos há uma gerência e um corpo técnico - por que o telecentro deveria ser, a priori, uma "terra de ninguém"?

   Telecentros devem ter máquinas e linhas de qualidade, espaço próprio e monitores que auxiliem o público a fazer o melhor uso, tirar o maior proveito de um equipamento que tem potencial cultural infinito, mas que pode, por manipulação da mídia e desinformação do leitor, ser usado de forma não qualificada.

Um comentário:

  1. Compartilho de suas ideias acerca da função dos telecentros instalados em bibliotecas e centros culturais; com efeito, o mais coerente é direcionar o uso dos equipamentos ao terreno cultural-literário, claro, sem adotar uma postura exclusivista. Sob meu ponto de vista, o maior desafio dos monitores não é orientar os usuários para que dominem os softwares e as demais ferramentas práticas; claro, isso também é essencial, mas pouco vale se não houver domínio do hipertexto, fundamento primeiro da web. A seleção dos conteúdos que a web proporciona depende de uma visão crítica do hipertexto, pois, embora a inteligência artificial das máquinas seja surpreendente, a linguagem verbal, meio pelo qual se explora a web, sempre será exclusivamente humana.

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