quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O PROFESSOR QUE FAZ DIFERENÇA

Dediquei o livro Silas (contos, Jovens Escribas, 2011) ao professor Albanito Vaz Júnior, sem dar qualquer indicação de quem seja. Chegou a hora de deixar isso claro.
Fui seu aluno em 1976, no Colégio Batista Mineiro. Português. Meu pai, que havia sido seu colega de trabalho muitos anos antes, contava que eles eram da turma dos fumantes, os que saíam à rua na hora do recreio. E como meu pai, ele tinha uma pontaria incrível com os tocos de giz: às vezes acertava o aluno conversador enquanto escrevia no quadro, sem se virar. Mas essa não era sua principal característica nem a que me fez prestar-lhe o modesto reconhecimento mais de 30 anos depois.
Não faço idéia se ele era um ótimo professor de Português, eu era muito novo para dar essa notícia agora. Mas me lembro com segurança de duas coisas: nós tínhamos que fazer e ler para a turma uma redação por semana – e isso era o purgatório para muita gente. E também com boa frequência, apresentar leituras ou jograis dos livros que éramos, claro, obrigados a ler.
Imagino que, para quase todos os colegas, ele deve ser uma lembrança amarga hoje.
Eu guardei por todos esses anos a lembrança de que em algum momento, já na década de 1980, me dei conta de que foram suas aulas e suas tarefas diretamente relacionadas à escrita e à leitura, que me situaram como escritor.
Em 1976 eu fiz um zinezinho em xerox que acabou rendendo, com amigos (grupo Canções), até 1978; em 1979 eu e dois deles fizemos nossos primeiros livros de poemas; a reação a isso e aos livros que continuei editando me localizou como escritor.
Mas eu comecei a escrever em 1972. Entender essa cronologia, para mim foi muito importante. O, digamos, elemento diferencial, que clareou o caminho, foi exatamente o professor Albanito e sua insistência feroz em nos empurrar livros para ler e temas para escrever. O contato diário com a literatura (e não só com as regras da gramática) foi o que me permitiu ter a lucidez de entender que, livros publicados e certa “vida literária”, no início dos 1980, faziam de mim um escritor. Eu era, muito ciente das dimensões exatas, como qualquer um daqueles autores que trabalhamos nas suas aulas.
Sempre digo, quando preciso contar esta parte da minha história, que, literariamente, os poemas daquela época não são mesmo grande coisa. Eu era pura intuição e influência explícita de minhas desorientadas leituras. Porém, e reafirmo agora, ter feito o que fiz e como fiz e quando fiz, foi fundamental para que o cidadão – e consequentemente o escritor – tivesse um pouco mais de entendimento sobre o que é esta praia.


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