quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

COMO NASCEM AS OFICINAS

A prática de trocar originais com amigos para leitura crítica se confunde com a origem dos tempos... em que comecei a escrever. Mas uma dessas trocas teve importância especial na minha vida.
Fui apresentado a Francisco de Morais Mendes pelo amigo comum, Alexandre Marino, em 1989.
No ano seguinte eu tinha pronto o original de Diz Xis: um amontoado de folhas de sulfite datilografadas, páginas de cadernos manuscritas, trechos fotocopiados, rabiscados, sobrecolados...
Com a confiança que ele já me inspirava, pedi que lesse aquilo e ele, com a generosidade que lhe é peculiar, aceitou.
Alguns dias depois, foi até minha casa e passou algumas horas relendo página por página, mostrando as marcações que iam da troca de vírgulas ao corte de um capítulo inteiro.
Foi uma revelação. (Não satisfeito, ofereceu seu computador (XP?) para que eu digitasse tudo novamente. E quando editei a novela, em 1991, assinou a apresentação.)
Esta história é para dizer que este gesto do bom amigo é o que norteia as oficinas que dou.
       O que faço é uma mediação entre o que o oficineiro faz e o que ele é capaz de fazer (e ainda não sabe). Meu trabalho é mostrar-lhe seu potencial e seus vícios; relatar as experiências que conheço; mostrar como fiz este ou aquele conto; colocá-lo em contato com outros escritores; praticar a autocrítica; desmistificar a criação; enfim, tentar prepará-lo para a solidão que deverá continuar enfrentando diante da página em branco.
revisando este final, após comentário da Maria Elisa: (...) tentar prepará-lo para aquilo que deverá compartilhar com a página em branco.

2 comentários:

  1. Fantini, oxalá todas as oficinas fossem pensadas nesse mesmo espírito... Lembro-me de vc a me dizer, diante da minha ansiedade de falar em público, que eu não devia pensar em como iria "enfretá-lo", mas em como iria compartilhar com ele aquele momento. Grazie, tante.
    Como nunca deixa de ser, a página em branco me fez lembrar de IC, e ficam suas palavras no Viajante:

    "Você fica atônito, contemplando a brancura impiedosa como se ela fosse uma ferida aberta, quase esperando que tenha sido uma perturbação de sua vista que projetou algum tipo de mancha de luz sobre o papel, onde pouco a pouco tornará a aflorar o retângulo zebrado de caracteres na tinta. Mas não é, é de fato uma alvura intacta que reina nas duas páginas que se defrontam."

    Talvez a solidão da página em branco também possa ser vista como uma grande aventura. Beijo.

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  2. Tive o prazer de participar de sua oficina, caro Fantini. E realmente a folha de papel é uma solidão. Não somente quando está em branco, mas também quando está pronta. Quanto perdi por medo de mostrar o que escrevi. E quanto ganhei ao compartilhar. Um abraço!

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