segunda-feira, 11 de junho de 2012

A MATÉRIA DA POESIA



Era um evento com microfone no Ponto de Leitura do Parque Municipal. Alguns convidados liam poemas e trechos de prosa, bom público para uma manhã de domingo.
Um sujeito me chamou de lado e perguntou se podia também recitar um poema. Antes que eu dissesse sim, emendou uns versos bem rimados, boa cadência, voz firme. Esperei uma oportunidade e o anunciei.
Com jeito de quem é acostumado com as luzes da ribalta, começou a se apresentar: nascido no Vale do Jequitinhonha, veio cedo para a capital etc. etc. e nada de poesia. Discretamente lhe fiz sinal para acabar com o discurso. Ele fez uma pausa, limpou a garganta e começou: “O grande companheiro Lula está mudando o Brasil, blablabla; o ministro Gilberto Gil é que está certo...” e tome elogios ao governo. Apelei e, ostensivamente, o interrompi: “Meu amigo, e aquele poema que você queria nos mostrar?” O camarada não se fez de rogado, abaixou o microfone, limpou com força a garganta e mandou: “Poesia? Que poesia, rapá! Eu gosto é de farinha!”
Empinou o queixo e saiu cambaleando seu resto de domingo pelo parque.

2 comentários:

  1. E o que seria da poesia se não fosse a farinha? Hehehe... Da próxima vez quero estar lá para também cuspir meu cream cracker mastigado...

    Abraços!

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  2. Fantini, a frase final do nosso amigo é poesia pura, como há muito não se via.

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