segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

CONCORDO E REPLICO

Acabo de receber este texto na minha CP. 

Dizem que, no Brasil, os livros são muito caros e que as pessoas não têm o hábito da leitura – o que hão de concordar, não deixa de ser realidade. Tendo conhecimento disso, que há um novo mercado a ser desbravado, com consumidores em potencial, que uma nova classe média pede passagem, mas que, para conquistá-la e transformá-la em leitores e, por consequência, consumidores de livros, devemos também dar nossa contribuição, em razão de sermos os principais interessados que o mercado livreiro cresça substancialmente, como em países da Europa e até mesmo como nossa vizinha Argentina. Se compararmos a população dos dois países versus a quantidade de livros lidos por habitante; ainda temos muito que conquistar.

Dentro desse contexto, em 2001, criamos um novo conceito em livrarias, pois percebemos um novo nicho de mercado, ante a necessidade de livros a preços acessíveis de verdade. Começamos então, vender livros a preços bastante atraentes (R$1,00, R$ 2,00, R$ 3,00, R$ 5,00, R$ 7,00 e R$ 9,00)[1] Logo, descobrimos que talvez não tínhamos o hábito da leitura entre nós, não porque éramos ignorantes literários, mas porque nossa renda não permitia adquirir um produto que, naquele momento, talvez fosse supérfluo. Vencemos a primeira etapa, que era um preço acessível a todos.

Mas, ao longo dos anos, com experiência acumulada e após ouvirmos nossos clientes, descobrimos que outras barreiras se opunham ao comércio do livro em nosso país. Percebemos que as pessoas gostariam que os livros fossem até elas e não ao contrário. Com isso, passamos a participar de feiras livres, em praças, colégios, terminais de ônibus, entre outros[2]. Mais uma vez os resultados favoráveis nos mostraram que estávamos no caminho certo, e mais uma etapa estava vencida, mas ainda não era o suficiente.

Com o passar dos anos nosso estoque foi aumentando[3], devido ao grande número de parceiros que nos procuraram oferecendo seus livros para comercialização. Uma nova etapa chegou, a de galgar melhores resultados. Partimos então para as grandes feiras e Bienais, as de maior expressão para o mercado livreiro. Infelizmente, diferente do que imaginávamos, não fomos visto com bons olhos por alguns participantes e até mesmo organizadores dessas feiras. Diziam que nosso estande era incômodo devido aos preços baixos por nós praticados. Chegou ao absurdo de um organizador nos dizer que a localização adequada ao nosso estande, naquele evento, seria na cozinha da feira, ou seja, no final do pavilhão. Era o mesmo que dizer que não nos queriam no evento e que nosso dinheiro não tinha o mesmo valor dos demais expositores, haja vista que o preço pago pelo estande era o mesmo para todos.

Onde queremos chegar com tudo isso? É simples a resposta, queremos apenas chamar a atenção para o fato de que estamos elitizando nossas feiras de livros. Não temos o direito de privar as camadas menos favorecidas de nossa sociedade de ter acesso aos livros. Não podemos negar-lhes o prazer da leitura, pois como profissionais do livro, temos um compromisso ético e moral com nosso país. Precisamos sim ter lucros, mas também precisamos do olhar e sorriso sinceros de uma criança que, com seu livrinho numa sacola, nos diz: “Muito Obrigado!”. É assim que construiremos um país de leitores. Cabe não só ao governo, mas também a nós, como livreiros que somos, contribuirmos para que isso se torne realidade, uma feira de todos e para todos.

Quando falo que nossas feiras estão sendo elitizadas, devo uma explicação. Porém, antes de me explicar, deixo claro que não sou contra a cobrança de ingressos, mas que não concordo com o valor absurdo, abusivo e limitador (ou seletivo) de classes sociais. Farei diferente, darei abaixo, alguns exemplos, para que tirem suas próprias conclusões.

1) Em 2010, a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo foi um sucesso, com excelente organização, visitação pública expressiva, uma verdadeira festa literária.

Valor do ingresso – R$ 10,00 (dez reais).

Mas, vejam bem, São Paulo tem 11.000.000 (onze milhões) de habitantes; 7.000.000 (sete milhões) de veículos e uma renda per capita de R$ 26.202,00, segundo pesquisa realizada pelo IBGE, no ano de 2009.

2) Também no ano de 2010, realizou-se a 2ª Bienal do Livro de Minas, na capital mineira. Um evento muito bem organizado, mas com público aquém do esperado.

Valor do ingresso – R$ 10,00 (dez reais) – mesmo valor que em São Paulo, entretanto, com uma diferença populacional de 8.500.000 (oito milhões e quinhentas mil pessoas).

População de Belo Horizonte: 2.500.000 (dois milhões e quinhentos mil habitantes) e uma frota de 1.350.000 (um milhão trezentos e cinquenta mil) veículos. Renda per capita em 2009, cerca de R$ 18.182,00 (dezoito mil centos e oitenta e dois reais), segundo dados do IBGE.

3) Em 2011, 14ª Bienal do Livro do Rio, outro feira de grande sucesso de público. Evento que dispensa apresentações e maiores comentários.

Valor do ingresso em 2011 – R$ 12,00.

Dados populacionais: 6.000.000 (seis milhões de habitantes) e uma frota de 2.200.000 (dois milhões e duzentos mil) veículos. Renda per capita em 2009, cerca de R$ 22.102,00 (vinte e dois mil cento e dois reais), segundo dados do IBGE.

Parece-me que três fatores: população, renda per capita e valor de ingresso, tem forte influência sobre os dados finais de visitação num determinado evento. Mas gostaria de dar ainda mais dois exemplos.
No ano de 2011, durante a Bienal do Livro de Pernambuco, os quatro primeiros dias do evento tiveram uma visitação insatisfatória, bem abaixo do esperado. Pelo primeiro ano a organizadora da Bienal de Pernambuco resolveu cobrar ingresso; e olha que só custava R$ 3,00!!. No quinto dia da feira a Andelivros conseguiu uma liminar na justiça proibindo a cobrança do ingresso; Não precisa nem dizer que nos dias subseqüentes à decisão da justiça, ou seja, sem bilheteria, o público aumentou em 500%. Confesso que não parecia a mesma feira, parecia outra Bienal. O sucesso estava estampado no sorriso dos expositores, tendo em vista que o público lotava os corredores da feira.
No mesmo ano, outro problema parecido na Bienal do Livro da Bahia, 95% dos expositores fecharam seus estandes em protesto à baixa visitação durante os primeiros dias da feira. Após esta medida, a organizadora baixou o valor do ingresso de R$ 8,00 para R$ 4,00, aí sim a feira mudou da água para o vinho.
A conclusão que chego é que, não podemos fechar os portões das feiras àqueles que não têm condições de pagar um valor absurdo por um ingresso. Entendo que há um custo (organização de uma feira) e, um objetivo de lucro, o que é comum a todas as empresas. Contudo, não podemos aceitar, sem nem ao menos tentarmos ou estudarmos uma nova forma de cobrança de ingressos visando o acesso ao livro a todos os cidadãos de nosso país, sem distinção de posição social, renda, etc.
Chamo a atenção para duas Bienais que acontecerão neste ano, são elas: Bienal de Minas e Bienal de São Paulo, ainda há tempo de pensarmos sobre o valor cobrado pelos ingressos. Cabe a nós, livreiros e defensores do livro (editores, distribuidores, autores, entidades, governo, entre outros), tomar frente por uma feira que cumpra realmente o seu papel cultural que, com toda certeza, na é o de fechar suas portas às classes menos favorecidas, por meio da cobrança de um ingresso seletivo e limitador de público.
Marcelo Gonzaga
Sócio Gerente – Top Livros

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