terça-feira, 11 de novembro de 2014

UMA AMIZADE DE 30 ANOS


Clic meu: Santos/SP, setembro 2104: Marçal e desenho seu, bar, amigos, prosa... 

     Em 1984, Leila Míccolis me escreveu do Rio dizendo que eu deveria fazer contato com um poeta de Amparo/SP porque ela tinha certeza de que nós nos daríamos muito bem. Devo ter mandado um exemplar do meu Bakunin, ele deve ter respondido com uma carta, que foi respondida com outra... Ficamos amigos assim, de cara. No início de 1985, muitas cartas já trocadas, ele veio passear em BH. Fui buscá-lo na rodoviária e não vi nenhum negro saindo do ônibus. Para mim ele era negro, foi o que eu deduzira da ilustração da capa de um livro que ele havia me enviado. Não, era branco, nessa época, e usava óculos rayban de piloto de avião.
     Marçal Aquino ainda bebia cerveja e fazia poemas. Já era um dos caras mais legais que já conheci. Ele não gosta que se fale essas coisas dele, mas nossa amizade, que completa 30 anos neste 2014, me permite a indiscrição. Claro que eu sempre saí no lucro, pois o sujeito é uma montanha de conhecimentos. Através dele fui apresentado a autores, diretores e principalmente outras pessoas que acabaram se tornando também alguns dos meus melhores amigos.
     Se minha memória ajudasse e eu não tivesse mais nenhum bom senso, poderia encher páginas com as histórias que vivemos juntos. (Ele tem uma memória assustadora — e discernimento, por isso esse folclore vai continuar sob domínio privado...)
     Vou contar só um episódio.
     Marçal sempre falou em entrevistas e palestras que os quadrinhos foram muito importantes para sua formação como escritor. Não sei se ele falava também em público que sempre gostou de desenhar e ainda desenha, mas esse detalhe sempre atiçou minha cobiça: quem sabe um dia tenho uma capa dele? Quando meu livro de contos Novella estava em produção (com o Carlos Fialho, da Jovens Escribas), resolvi calçar a cara e tentar. Para minha surpresa (não sei por que, pois sua generosidade sempre foi imensa), ele topou na hora. E não só aceitou, como me permitiu opinar sobre duas ou três versões até chegarmos ao desenho que acabou servindo de base para a capa de Danilo Medeiros. Era exatamente o que eu queria: uma ilustra de qualidade, inédita, de um grande escritor, que dialogasse com os contos.
          Tem como não amar um sujeito desses?



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