sábado, 24 de março de 2012

MUUUUUUUUUUUUUUUU




    Quando trabalhei no jornal de Alfenas/MG, com o poeta Eloésio Paulo de editor, tinha como uma de minhas tarefas resenhar livros. Noites do Bonfim foi um deles. Gostei, publiquei minha opinião e o jornal enviou o exemplar à editora, como rotina. Dias depois, recebi uma carta do autor em tom pessoal. Respondi na mesma nota. Assim me tornei amigo de Marcelo Carneiro da Cunha, escritor de, que morava ainda em Porto Alegre/RS. A partir daí começamos a trocar livros, originais, impressões. Em um ano parecido com 2003, fui conhecer a capital gaúcha durante o Fórum Social Mundial. Aproveitei para conhecer também o Marcelo (e, de quebra, o Carpinejar), uns 15 anos depois das primeiras cartas, "quando ainda não havia email, acho que nem correio havia".
    De lá pra cá, ele publicou romances, contos e juvenis, teve uma adaptação pro cinema (do ótimo Antes que o mundo acabe), trocou de profissão, fez palestras, viajou o mundo, casou-se com a Fabiana e mudaram-se para São Paulo, tiveram o Manuel há 4 meses, enfim, tocou a vida.
   Agora está lançando Primeira vez e muitas vacas (Record), romance escrito primeiro como conto para uma antologia idealizada pelo também gaúcho Ernani Ssó.
   Marcelo tem, para seus personagens jovens, uma dicção muito própria. Isso que é um drama (e muitas vezes a ruína) para certos autores, com ele soa natural. Tem também um humor bem articulado, que te faz rir sem se distrair da história. Sempre tem histórias interessantes, que mantêm o leitor conectado até o fim. Aliás, conectado é o termo mais adequado, pois ele faz questão de situar suas histórias no contemporâneo. Seus personagens usam todas as traquitanas eletrônicas e transitam no mundo virtual com naturalidade, como fazem os jovens reais.
   Marcelo tem uma característica, não muito à flor da pele, que se reflete em todos os seus textos: uma enorme solidariedade pelo ser humano. Todos eles, incluídas as crônicas semanais no Terra Magazine, escondem sob o humor fácil e muitas vezes cáustico; sob a crítica feroz a certas trapalhadas da sociedade, um olhar terno para o indivíduo vítima. 
   Neste Primeira vez e muitas vacas, os leitores vão se surpreender no final, eu aposto todas as minhas teclas. Uma garota hiperurbana cujos pais se separaram, opta por dar um tempo na cidade pequena, rural, do interior, com parentes que ela mal conhece. Mas ela tem uma forte motivação para esta mudança, e muita coisa interessante vai acontecer. mas o personagem principal talvez não seja ela.
   Eu li em três trajetos de ônibus até o trabalho, esta semana. Muitas questões caras aos escritores estão ali, mas nunca sob a forma de tese acadêmica, discurso panfletário, resmungação casmurra; é sempre uma leitura prazerosa, ágil, leve. Com humor, elemento raro quando se pretendem inteligentes.

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