quinta-feira, 18 de setembro de 2014

OS BARES DA MINHA ESQUINA









     A rua em que moro há cinco anos é muito fraca em matéria de bar da esquina. Aliás, o bairro todo é bem desprovido desta instituição tão importante na minha formação espiritual. Eu, cada vez mais, gosto de beber em casa, com familiares, amigos ou tendo o Dom e meus vinis por companhia (tem mais coisa e gente nessas horas, mas melhor não detalhar demais). Mas eles fizeram parte de minha vida - e muito intensamente. Por isso, antes que se percam entre as garrafas da mesa, escorram pelo ralo da rala memória ou se prendam atrás das portas que se fecham, registro aqui os que foram mais importantes para mim. Cada um me fez viver aventuras especiais, em menor ou maior grau, frequência e intensidade. 
     Eu ainda era criança quando conheci meu primeiro bar da esquina. Não ficava na esquina da Álvares de Azevedo, na verdade ficava na rua Ponte Nova, a uns 5 quarteirões de casa. Era a Mercearia do Seu Zé, onde meu pai parava nas manhãs de sábado: era minha tarefa ir até lá chamá-lo pro almoço.
     Depois fica difícil organizar cronologicamente seu surgimento, nem quero fazer isso. Vamos por outras doses: em Sabará, cidade que precisei frequentar desde a infância, havia o Tareco, ao lado da casa da minha avó/tias. Ainda não bebia, mas tenho registro visual e sonoro do ambiente. O Turista, mais conhecido pelo nome de um dos donos, Vavá, irmão do Pedro; ficava na esquina da rua Direita com praça Santa Rita. Vicente, minúsculo, mas bem em frente ao Banco Mercantil, que tinha a calçada elevada, onde nos acumulávamos por horas a fio. Cê qui sabe, surgiu com ares de 'restaurante', mas também tinha clientes em frente, na passarela do banco. Adega, do nosso amigo Jardel, que ficava nos fundos da casa de sua família; alternativo, ouvíamos rock, fazíamos saraus e fumaça. O bar, na Santa Rita/Direita, tinha nome, mas para nós era Márcio, nome do atendente; durante o ano de 1986, em que trabalhei e morei em Sabará, íamos todos os dias de semana beber a partir das 18h01. Valdemar era um garçom querido que, felizmente, abriu seu próprio bar perto da igreja de São Francisco; durou pouco, infelizmente. Quinto do Ouro tinha vários ambientes, foi por muito tempo a savassi da cidade. Bolão é apelido de uma figura folclórica, teve um boteco na esquina da Clemente Faria com praça Santa Rita. 314 era famoso pelo feijão tropeiro e pela simpatia dos proprietários; Fafá de Belém teve o prazer de provar. Dona Lia, no Arraial Velho, fazia um frango ao molho pardo (entre outras delícias) maravilhoso; quem pôde comprovar isso foi Zé Ketti, com Ronaldo Rayol e Luiz Roberto Guedes, quando os levei lá. Também no Arraial Velho, alguns anos depois que Dona Lia se foi, havia, até pouco tempo, o Quinta dos Cristais, do músico Ângelo Heleodoro, que ficava no local onde era o sítio, que frequentei na infância, do meu tio Vitório. Aliás, o Ângelo, quando tentou reerguer a Orquestra Sinfônica Mineira, manteve na sede da avenida Santos Dumont um bar em que bebíamos todas as sextas-feiras daquele 1981. Antes de sair de Sabará, lembro do Moinho D'água, no Pompéu, de dona Maria, mãe do Silas, único que ainda faço questão de visitar (várias carnes com ora-pro-nobis) e de um não bar, mas onde também bebemos e vivemos muito, que eram as barraquinhas da praça do Rosário, durante os julhos de aniversário da cidade.  
     E ainda antes de voltar para BH, uma referência afetiva, de curta duração real mas bem gravada na memória: o Bar do Maurício (que nós chamávamos de Bar das Tias), em Alfenas, onde morei por três meses.
    No bairro em que nasci, Colégio Batista, morei até os 15 anos, não deu tempo de ter meu próprio bar da esquina (mas em Sabará já os havia). Portanto, os registros começam com o Fabinho, na Pouso Alegre, a vinte metros de casa, que era a sede de um time de futebol chamado "Aonde vais, garboso infante?" Um quarteirão adiante, havia o Xique-xique, também uma segunda casa nossa. O Scotellaro, o Café Frei Veloso e outros bares menores das avenidas Santos Dumont e Paraná, e da rua São Paulo, durante um tempo me serviram de "escritório": eu escrevia ali como se tivesse uma câmera fotográfica na ponta da caneta. Em 1989 frequentamos com assiduidade o Cravo e Canela, reduto de eleitores do Lula. Ao Chalé do Carlinhos fui poucas vezes, mas marcantes. Meu ponto era mesmo o Sô Michel, um libanês finíssimo, e sua esposa, Dona Lucy, com os quais eu conversava durante horas, sobre política e suas lembranças da terra natal. Nos cinco anos em que morei no bairro Ipiranga, usei os serviços do Pirapora e do Delle's. Perto da sede da secretaria de cultura, dentro do edifício Central, havia o Adilson e, quando nos mudamos para a Sapucaí, o Tia Emília ou Granito, do senhor simpatia Carlinhos.
     E para finalizar um bar que foi o idealmente meu bar de esquina, onde cheguei a beber, pouco, com meu pai. (Misteriosamente, só agora me ocorre a imagem de que ali meu pai, de alguma forma, me "passou o bastão" como 'filho botequeiro'.) Ficava na esquina das ruas São Luiz e Josias Cassimiro, a dois quarteirões de nossa casa na São Mateus, no Instituto Agronômico. Foi ele que usei como cenário (e de onde roubei personagens) para meus contos de Suíte Bar. O dono era o Tomás, sujeito elegante, inteligente, sensível, companheiro de seus fregueses. Quando cursei Letras, eu costumava chegar da faculdade perto de 23h, me sentava no freezer e nós dois proseávamos com folga por uma ou duas horas; era comum me posicionar ao balcão (onde costumava ver meu pai - será que minha mãe chegou a me mandar buscá-lo para almoçar?) nos fins de semana e costurar conversas até o meio da tarde com os "colegas de copo e de cruz".
     (Ainda bem que, hoje, aos 53, o bairro União não tem um bar da esquina para me tirar de casa...)
     PS.: A Rosângela lembra que eu não citei o Cantinho da Glau, bar que, segundo ela, "é tão bom como se fosse na minha esquina", em minhas palavras. Bom, não citei o Bar da Glau simplesmente porque ele ainda é um bar da minha esquina.




3 comentários:

  1. só uma correção: não se mora/morou em Alfenas. morre-se ou, teu caso, profissa no esporte que é, sobrevive-se a Alfenas, a mais irmãos-coeniana cidade mineira - ou, Onde os Fracos Não Têm Vez.
    no mais, clap, clap, clap!

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  2. Rapá, merece diploma!
    Renato

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  3. não foi citado, mas em sabará bebemos algumas vezes no bar do adilson, perto da igreja de são francisco, onde vc me apresentou o marçal aquino.(caio)

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