terça-feira, 2 de setembro de 2014

SOBRE O FILME NEBRASKA



UM RAIO-X  DA AMÉRICA
(Rodrigo Leste)
  
   O filme NEBRASKA trata do mais americano dos assuntos: o dinheiro.
    Em um bem escolhido preto e branco, a película mostra a trajetória de um homem velho, doente, perturbado, que acredita ser o ganhador da quantia de um milhão de dólares, promoção canhestra e picareta de uma revista que lhe caiu às mãos.
    O american way of life é inteligentemente dissecado pelo roteiro, muito acima da média dos lançamentos que aparecem por aqui. Televisão, mesquinharia, maledicência, além da overdose de comida e bebida são elementos constantes no cotidiano das personagens. Ao saber que o velho ia entrar no milhão, muita gente daquelas cidadezinhas cheias de tédio, por onde o protagonista passa na companhia de um de seus filhos, tenta armar arapucas para abocanhar parte da bolada. Aliás, o esforço deste filho que se dispõe a acompanhar o pai em algo que ele, o filho, sabe perfeitamente que é insensato e absurdo (o recebimento do prêmio de um milhão), é o contraponto humano que confronta a sórdida ganância dos que querem se apossar da grana do velhinho. O rapaz entende que a fantasia de ganhar o dinheiro é o pouco que resta na mísera vida do pai. Por isso se arma de uma paciência de elefante para fazer as vontades e caprichos do velho teimoso e obcecado; compreende que esta talvez, seja a ultima oportunidade de gozar de sua companhia antes que ele bata as botas.
    Uma cena marcante: um grupo de velhos, parentes do “feliz milionário”, assistindo um jogo de basquete ou futebol na tevê. Pessoas que não se encontram há muito, reúnem-se e ao invés de botarem a conversa em dia, curtirem a companhia uns dos outros, ficam prostradas diante de um aparelho ruminando suas respectivas solidões com as caras mais tristes e desamparadas do mundo.
    Se quiser conferir, vale a pena, NEBRASKA, um filmão!
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    O filme tem isso tudo mesmo que o Rodrigo diz, mas quero chamar a atenção para outro aspecto do roteiro: a compreensão do filho que, mesmo sabendo que o pai está investindo numa roubada, o acompanha na viagem e o deixa ver, com seus próprios olhos, que a parte mais podre do sistema fodeu de novo com ele. Isso é generoso, de sua parte, mas ao mesmo tempo tem algo de sádico, como muitas das ervas que temperam as relações familiares.

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