terça-feira, 2 de julho de 2013

COFIANDO "BARBA ENSOPADA"



Comecei ontem a leitura de Barba ensopada de sangue, do Daniel Galera. Promete, mas me trouxe já alguma reflexão.
   Antes, já havia ouvido a mesma observação, em tom crítico, de três pessoas sobre uma característica desse romance: há excesso de descrição. Isso não me assustou; por si só, não é um problema - nem a descrição nem o palavrão nem nada - o que importa é o conjunto, a eficácia do resultado, se a coisa funciona. Um desses leitores observou que essa é uma característica do romance do século 19, ao que eu rebati que o leitor de hoje, presume-se, já tem o código das descrições (entre outros), o que permitiria ao autor evitá-las.
   O primeiro capítulo desceu bem, ok. No segundo, me lembrei de Hemmingway em, se não me engano, Paris é uma festa, em que acompanhamos (para mim, que sou fã dele, de forma cansativa) cada passo do protagonista. Reduzi a leitura para uma primeira marcha. E no trecho de hoje (leio muito no ônibus, pela manhã), ficou claro que o protagonista tem um grave (e interessante) problema de memória. Ah, sim senhor, então o excesso de descrições do narrador é/pode ser um recurso do autor para fixar no leitor esse problema! O possível aborrecimento causado pelo excesso de descrições é uma forma de compartilhar o incômodo do personagem. Ok, ponto pro Galera. 
   Vamos ver então como isso se sustenta pelas próximas 400 páginas...

2 comentários:

  1. Interessante o seu ponto de vista sobre o excesso de descrição, não havia pensado nisso. Inclusive, se tivesse um problema desses, acho que seria muito mais detalhista em minhas observações diárias como forma de reter tudo ou até mesmo de compensar o que todos conseguem e eu não.
    Gosto mais de pensar no excesso como recurso do que, em uma crítica que li outro dia, um livro já pensado para se tornar um filme, daí o excesso.

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  2. Flaubert, no século xix, com toda a exuberância de descrição, continua moderno, pois os elementos que compõem o mundo de emma bovary acabam dando suporte às fantasias dessa protagonista trágica. Umberto Ecco fez um romance interessante em que o personagem sofre avc e além das descrições, insere as imagens dos livros revistas e propagandas que mobiliavam sua memória ora danificada. Já li um livro do Galera, mão de cavalo e gostei bem, vou procurar esse daí pra ler, quando tiver tempo.

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