terça-feira, 19 de março de 2013

"OS NOVOS CRUZADOS" 2

   Fiquei preocupado. O modo silencioso como os pichadores fugiram, aqueles capuzes, o silk da cruz cheia de detalhes... Não parecia apenas molecagem. Era alguma coisa a mais. Dava para pressentir um sentido de organização.

   Domingo acordei com a campainha. Cristina, vizinha do 23, também estava incomodada.
   - Você viu isso?
   - Claro, né, Cris, meu portão...
   - Não, idiota, os outros!
   - Que outros? Você acaba de me acordar.
   - Vai trocar de roupa que eu te mostro.
   - Café?
   - Eu faço. E vê se toma um banho.
   Essa moça é cheia de intimidades comigo. Não sei de onde ela tirou isso. Estudante de Letras, leu meus livros, fez um trabalho com um dos contos... Daí ficou assim, abusada. Eu gosto, ela é bacana.

   Incrível! Apenas duas casas do nosso quarteirão não estavam marcadas. O Ângelo, que faz transporte escolar e os Brito, uma família enorme no início da rua. As outras, todas com suas malditas cruzes de espadas! Assustador. 
   A princípio foi a quantidade, mas logo vi que o que me assustava mesmo era o sentido estético daquilo. A tinta não escorreu, não havia marcas do silk, o tom preto não variava (como se eles tivessem um estoque de latas em mãos, o que te leva a pensar que havia quem carregasse ou um veículo...) e, o mais importante: visto em perspectiva, o conjunto compunha um imponente corredor, macabro.

Um comentário:

  1. Ei, Sérgio.

    Isto está ficando mesmo bem interessante, hein? Onde estão as continuações?

    Esto ansioso para ler mais.

    Abraços,
    Tiago A.

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