Depois da surra que "os novos cruzados" deram no Gilberto, o espírita, o tempo fechou na região. Não se fala de outra coisa na mercearia, nos bares, nas esquinas... Sexta-feira, no Oldair, enquanto esperava minha vez de ser atendido, o assunto era o mesmo. Um velhinho que estava lendo o Extra era o mais revoltado:
- Tá certo o sujeito defender sua posição, mas bater nos outros é demais!
- Vocês acham que esses novos cruzados são religiosos?
- Que negócio é esse de novos cruzados?
Precisei explicar que este é o apelido que surgiu na minha rua. Esqueci que ninguém sabia dele.
- Eu acho que deve ser coisa de religião sim. Na minha rua tem três casas "pinchadas" com umas cruzes.
Aquilo era novidade para mim:
- E em que rua o senhor mora?
- Na Edson.
Esta é longe da minha. Quer dizer que a coisa está se espalhando mesmo pelo União.
- Será que essa confusão aqui tem a ver com isso? - o velho esticou o braço para fora da capa, passando o jornal.
Peguei logo. A notícia era sobre a expulsão de uma família de moradores de rua de um lote vago, perto da Cristiano Machado, já na Cidade Nova. A polícia e a prefeitura afirmavam que não tinham feito aquilo.
- Me empresta seus óculos, companheiro?
Aproximei a lente da foto. No muro do lote, atrás dos caixotes e objetos quebrados, a porra daquela cruz de espadas parecia a assinatura da violência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário