COMO NASCEM AS BOCHECHAS ROSADAS

Há muitos anos, visitando minha irmã Edna, no Rio, fui apresentado ao livro Viagem ao País de Tropicana, de Luis Carlos Eiras. Gostei do que li, mas principalmente do que vi: o desenho da capa de um tal Cláudio Martins.

Passei a prestar atenção ao trabalho do Cláudio, até conhecer a pessoa num evento aqui em BH. Grande figura, continuei seu fã. E agora somos parceiros no Coletivo 21.

Fui do conselho editorial da revista Releitura por uns dois anos e, para um dos números, propus a ele que escrevesse sobre ilustração. Seu texto, infelizmente não aprovado pelos outros membros do conselho, defendia uma tese que passei a compartilhar: se o ilustrador, mesmo contratado pela editora, passa a ser parceiro do escritor, o produto livro só tem a ganhar. Ele dava um exemplo engraçado (como quase tudo o que faz) de um texto que tinha uma ave que é muito sem graça quando desenhada. Propôs ao autor, através do editor, que a trocasse, já que isso não alteraria em nada a história. O escritor não aceitou, tinha lá algum motivo para manter o bicho - que é desagradavelmente indesenhável.

Quando minha Baleia Conceição foi aprovada pela Saraiva, comuniquei que estaria disponível para conversar com a ilustradora (que eu indiquei, conhecendo apenas seu trabalho). Por um motivo ou outro, só vi a arte quando recebi o boneco para aprovação. Um belo trabalho da jovem Suryara Bernardi, ex-aluna da grande Ciça Fittipaldi. Sugeri alguns pequenos acertos, de arte e diagramação, e o livro ficou muito bom, afinal.

Mas ainda acredito que se os dois artistas conseguirem uma interação real, o livro terá ainda mais chances de ganhar que perder.

Os livros de autores como Cláudio Martins, Ângela Lago, Nelson Cruz, Marilda Castanha e tantos outros gigantes da nossa literatura são prova de que esta tese é boa, pois estes são dois-em-um cada um, realizando as narrativas textual e visual.