BAH, DOM, TECA, BIANCA E TIL
abril de 2016
Descrição do cenário: a rua Onísio, onde moro. Manhã de
domingo. Como em todos os dias, movimento nenhum. Paz de subúrbio. Do outro
lado da rua, minha irmã Amélia conversa com sô Sílvio, nosso vizinho.
Estacionado em frente à nossa casa, há dias, o caminhão do sô Josias,
ex-vizinho.
Ação: coleira do Dom na mão esquerda, uso a outra para abrir
o portão. Saímos e enquanto me viro para puxar o portão, Dom vê Amélia. Decide
que é uma boa hora para correr e fazer-lhe festa.
Câmeras subjetivas: como eu ainda estava com o tronco virado
para o portão, não havia visto minha irmã e meu vizinho; porque a Onísio tem
apenas um quarteirão e é fechada no alto e somos apenas uma dúzia de moradores,
o movimento de automóveis é quase nulo; por isso nunca me preocupei em segurar
com força a coleira; porque havia o caminhão estacionado, o motorista que
entrara por engano na rua e retornava não pôde ver o Dom correndo para a outra
calçada; apesar de ser novinho, Dom era um labrador SRD muito forte.
A gente foi ao Mercado Central orçar uma churrasqueira. Paramos
para ver os animais à venda. Uma daschunda chamou minha atenção. O vendedor,
espertamente, logo a colocou nos meus braços. Quando pensei que não é correto comprar animais, ela me deu uma lambida no
rosto, com gosto. Impossível não levar para casa. A Bah viveu 10 anos comigo.
(O Mercado Central de Belo Horizonte/MG ainda permite a
comercialização de animais. É um absurdo que deve ser combatido.)
Iniciamos o processo de mudança para a Onísio, em fins de
2008. Casa com quintal grande o bastante para que ela pudesse viver melhor.
Infelizmente um tumor não permitiu que
ela conhecesse a casa nova. Assim que possível, adotei o Dom numa feirinha, com
o apoio da Adriana Torres Ferreira, Mila Rodrigues e Fernanda Spigolon.
Amor à primeira vista, tinha 2 meses e
viveu quase 2 anos antes de ser atropelado na porta de casa.
Passado o luto, eu e Amélia buscamos outra adoção, desta vez
na ONG Cãoviver. Foi fácil ver que aquela mocinha triste naquele box protegido
da chuva viria morar na Onísio. Era outubro de 2015 e a Teca está sendo uma
linda, como os bichos sempre são.
Outro domingo: voltando do passeio, ouço um choro bem fraco,
aqui na frente de casa. Ponho Teca para dentro e vou ver quem me chama. Era a
Bianca (ainda sem nome), tão fraca que nem conseguia ficar de pé. Me senti
honrado em poder seguir o bom exemplo de tantas pessoas que já resgataram
animais em situação de risco. Na segunda-feira a levamos à ONG Bichos Gerais onde
foi atendida pela Danielle Castro Ardison. Na sexta, o nosso veterinário Rafael
do Nascimento. examinou a Bianca. Naquele dia precisei viajar e deixei-a sob os
cuidados do Robson de Melo Pereira. Fui com o pensamento bem gelado: se ela não
reagir até minha volta, será sacrificada. No sábado ele me enviou o vídeo dos
primeiros passos da bonitinha. Agora ela já está ganhando umas carnes, corre e
brinca o tempo todo com a Teca. Como são da mesma idade, acho que terão muito o
que fazer nos próximos 15 anos.
Nasci na rua Álvares de Azevedo, no bairro Colégio Batista.
Na nossa casa sempre teve o Til, um SRD vermelho, me informa minha memória. Não
lembro de ser especialmente amigo dele. Minha mãe o alimentava com angu (restos
de comida misturados com fubá) e eu muitas vezes era quem lhe dava comida. Um
dia ele fugiu. Para me reconfortar, me explicaram que os cães gostam tanto de
seus donos que quando sentem que vão morrer, eles dão um jeito de fugir. O Til
devia ser velho. Eu já não sou tão jovem. Bah, Dom, Teca e Bianca são sempre o
Til da minha infância.
Teca e Bianca |